Amar

A poetisa Florbela Espanca escreveu o belo poema Perdidamente e nele ela diz:
"Eu quero amar,
Amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... Além...
Mais este e aquele, o outro e a toda gente..."
Devemos perceber que o amor, o verdadeiro amor, contém sentimento, mas é muito mais que sentimento, pois o amor é sempre uma ação benéfica em relação ao outro. É uma atitude que tira o eu do centro, é um ato volitivo de entrega. Sendo assim, será que o amor é uma realidade em minha vida? Será que realmente amo perdidamente e desejo amar toda gente? A verdade é que amar é um risco e muitas vezes não estamos dispostos a correr riscos e lembremos que a Escritura diz que o amor “Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Co 13.7). Estamos dispostos a realmente amar?
Houve um momento na vida de Jesus, em que uma pessoa perguntou-lhe o que deveria fazer para herdar a vida eterna, e, o Mestre respondeu perguntando-lhe o que estava escrito na lei e nos profetas. O homem respondeu dizendo: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10.27). Mediante essa resposta, o Mestre disse que ele deveria fazer isso, e assim teria a vida. Entretanto, o homem vendo que não chegava a este padrão e, numa tentativa de se justificar, perguntou a Jesus quem era o seu próximo e o Senhor como um excelente contador de estórias apresenta-lhe a parábola do bom samaritano e o que muitas vezes não percebemos é que, os que descem do templo, que supostamente estavam manifestando seu amor a Deus através da adoração, são insensíveis ao seu próximo e o samaritano que vem ninguém sabe de onde e nem sabe para onde vai, desce da sua montaria, cuida do homem ferido, coloca-o sobre a sua montaria, leva-o para uma estalagem e paga tudo para aquele desconhecido sem pedir nada em troca e ainda assume o compromisso de que, se ele gastar algo mais, pagará por ele (Lc 10.30-37) e depois dessa estória o Senhor pergunta quem foi o próximo e o homem responde que foi o que agiu com misericórdia e então, o Senhor diz para ele fazer o mesmo. Quem diz que ama a Deus, deve amar o seu semelhante e amar é descer do seu pedestal para servir e cuidar do outro.
Florbela Espanca fala de amar perdidamente, mas Jesus diz que devemos amar conscientemente e primeiramente a Deus e depois o nosso próximo e Tomás Halík diz: “Quando manifestamos um amor carinhoso, compassivo e praticamente solícito ao nosso próximo, já estamos a experimentar o «Céu». Como dizíamos, Deus não está «atravessado no caminho». Contudo, os nossos próximos estão, e quando eu der um passo de amor em direção dos mesmos, Deus estará presente nesse amor entre nós”. Sim é preciso amar as pessoas e amá-las como são, com a tez que tiverem e independente de sua nacionalidade ou orientação sexual, as pessoas devem ser amadas. E não podemos esquecer que: “Segundo o Novo Testamento, o «amor a Deus» divorciado do amor compassivo, desinteressado e solícito às pessoas, é hipocrisia: «Se alguém disser “Eu amo a Deus”, mas tiver ódio ao seu irmão, esse é mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê»” (1Jo 4.20). Quem diz amar a Deus, deve prová-lo amando o seu próximo e amar o próximo é assumir a responsabilidade de cuidar desinteressadamente dele.
Amar e amar perdidamente e desinteressadamente que esse seja o nosso mote, mas que amemos as pessoas num ato de amor e devoção a Deus, o nosso Criador.