A tempestade
Sou amazonense, natural de Manaus e sendo assim, cresci divertindo-me e desfrutando de um bom banho de chuva. Cresci apreciando as trovadas e os relâmpagos que rasgavam os céus de Manaus.
Uma das coisas que recordo-me desta época é que os mais velhos tinham medo da chuva e dos relâmpagos. Alguns diziam para tapar os espelhos e evitarmos coisas de metal. Todos nós carregamos as nossas superstições e os nossos temores. Todos teremos que enfrentar as tempestades da vida, não importa quão preparados sejamos. Lembremos que os discípulos de Jesus que eram homens acostumados ao mar e a enfrentar tempestades, mas houve um determinado momento em que eles temeram, acharam que estavam sucumbindo à tempestade que se havia levantado e em desespero buscam auxílio em Jesus (Mt 8.23-27). Este relato é fantástico! Já ouvi muitas reflexões neste texto, mas ao olhar para ele hoje aprendo o seguinte: Há momentos na vida que a nossa experiência não vale nada. O relato é magnífico e paradoxal. Os pescadores experientes encontram-se impotentes diante da tempestade que se levantou sobre eles e precisam pedir ajuda ao carpinteiro.
Quantas vezes, na nossa arrogância descobrimos que aquilo que pensamos saber vai revelar-se uma grande frustração e mostrar toda a nossa incapacidade e despreparo? Os pescadores descobriram que os seus anos de experiência pouco valiam diante daquela turbulência.
Há momentos na vida que a tempestade é tão grande que todo nosso esforço é vão e por isso, o medo toma conta do nosso ser e o medo nos impede de agir, ele nos paralisa. Os discípulos fizeram o que podiam, mas em vão e foram tomados pelo medo e neste momento de desespero voltam-se para o Senhor. Creio que todos nós também somos assim, quando somos tomados pelo medo e não temos mais recursos, e pensamos que iremos sucumbir, voltamo-nos para Deus e clamamos por socorro.
Há momentos na vida em que reconhecemos a nossa pequenez e vemos que sem Deus nada podemos fazer. O texto é de uma beleza ímpar. Relata-nos como muitas vezes todas as nossas tentativas ficam frustradas e só nos resta reconhecer o agir sobrenatural de Deus.
Quando leio esta narração me pergunto como é que Jesus conseguia dormir em meio a tamanha tempestade?
Os discípulos o questionam e recebem uma lição extraordinária. Eles aprendem que Deus tem tudo sob controle e controla tudo, mas Ele age na hora certa e mediante ao nosso pedido de socorro.
Lembro de um cirurgião ateu que narrou a sua experiência de ter sofrido um aneurisma e foi questionado sobre a questão de Deus e ele respondeu: “Nesta hora até o ateu ora”. É verdade! Diante das tempestades da vida reconhecemos a nossa pequenez e reconhecemos que sem Deus não há nada fazer.