A verdadeira justiça

Um dos grandes dilemas que enfrentamos atualmente é o da Teodiceia, ou seja, a justificação de Deus. Esse conceito foi definido pelo filósofo escocês David Hume (1711-1776), que vai buscar o pensamento do filósofo grego Epicuro (341-270 a.C.) que questionava basicamente o seguinte: Se Deus quer acabar com o mal e não o pode fazê-lo, então Ele é fraco e se pode e não o faz, é malévolo. Não é Ele tanto poderoso como também deseja fazê-lo? Então, de onde procede o mal?
Foi diante da proliferação da injustiça e da maldade que o autor de Eclesiastes declarou que contemplou a obra de Deus e entendeu que o ser humano não tem capacidade para compreendê-la. O Pregador foi contundente ao declarar:
“Mas, ainda que alguém peque cem vezes e continue a viver por muito tempo, sei que aqueles que temem a Deus terminarão em situação melhor. Os perversos não prosperarão, pois não temem a Deus. Seus dias, como as sombras do anoitecer, não se prolongarão. Há mais uma coisa que não faz sentido em nosso mundo. Nesta vida, justos muitas vezes são tratados como se fossem perversos, e perversos, como se fossem justos. Isso não faz sentido algum! Recomendo, portanto, que as pessoas aproveitem a vida, pois a melhor coisa a fazer neste mundo é comer, beber e alegrar-se. Assim, terão algo que os acompanhe em todo o árduo trabalho que Deus lhes dá debaixo do sol. Enquanto procurava sabedoria e observava os fardos pesados que as pessoas carregam aqui na terra, vi que, dia e noite, sua atividade não cessa. Percebi que ninguém é capaz de descobrir tudo que Deus faz debaixo do sol. Nem mesmo os mais sábios conseguem compreender tudo, embora afirmem o contrário” (Ec 8.12-17).
Quais são as lições que aprendemos com esse texto?
A primeira lição que o texto nos ensina é que Deus julgará e recompensará a cada um. O Pregador declara que Deus é moral e que Ele age. A justiça humana pode falhar, mas a verdadeira justiça, a divina, não falha e Deus irá julgar a cada um e recompensar conforme cada um tem realizado com a sua vida. Pode até parecer que nada acontece a quem faz o mal, que tudo de bom acontece ao que fazem mal e isso não é algo novo e muitos até pensam em desistir da fé quando olham para esse quadro, pois não aceitam que os cruéis e corruptos estejam com a vida indo muito bem. Nesse contexto, a pessoa até chega a pensar que Deus é injusto e se questiona se vale a pena viver uma vida de fé, quando olha que aqueles que praticam o mal estão com suas vidas fabulosas. Entretanto, o Pregador declara que Deus é moral e vai julgar.
A segunda lição que o texto nos ensina é que preciso aprender a viver num mundo de padrões invertidos, dependendo da graça de Deus. O pregador declara que há justos que fazem as coisas certas e acabam por ser castigados e os que praticam a injustiça são elogiados e vivem vidas folgadas e refesteladas. Portanto, devemos aprender a viver nesse mundo de injustiça, de valores invertidos fundamentados na graça de Deus e com alegria. Portanto, aprenda a viver sob a graça de Deus, reconhecendo que aquilo que vem até você é dádiva de Deus e, por isso, viva com alegria e manifeste nesse mundo às avessas a graça de Deus.
Por último, o texto nos ensina que é preciso aprender a viver com as suas limitações. O Pregador declara que ninguém compreenderá a obra de Deus, mesmo que tentem afirmar o contrário. É fundamental entender que há limitações e compreenda os seus próprios limites e tenha a capacidade de dizer que não consegue ir mais além. Aprenda a viver com suas limitações, mas viva de forma feliz, mas sabendo que não terá todas as respostas, mas saiba que Deus as têm.
O Pregador ensina que a verdadeira justiça é a justiça de Deus. Os homens poderão falhar e falharão, mas Deus jamais falhará. Sendo assim, confie na justiça de Deus e nunca deposite a sua confiança na justiça humana.