Adolescência

A adolescência é a fase da vida em que sabemos tudo. Ninguém sabe mais do que nós, mas é também a fase das mudanças, onde tudo é passageiro. Os câmbios acontecem de maneira intensa e esta é a fase dos enamoramentos, onde são feitas juras de amor, declara-se que nada nem ninguém vai destruir a relação, mas subitamente tudo muda e vive-se a dor da paixão, sofre-se profundamente e jura-se que jamais ira amar assim novamente, mas logo a seguir, surgir um novo alguém e volta-se a dizer que é o amor da vida.
Esse é o momento em que se vive um louco amor e descobre-se o amor platônico, onde se desenvolve uma relação com alguém, mas essa relação jamais se concretizará. Contudo, ela é intensa, profunda e a melhor de todas. Namora-se com uma pessoa, mas ela não namora com você. Ama-se profundamente, mas a outra pessoa no máximo olhará para você como um bom amigo, mas isso basta. Quando se recebe um aperto de mão, um abraço, um beijo no rosto é uma alegria inenarrável.
Essa também é a fase, em que os pais são uns verdadeiros chatos, tiranos, retrógrados que tentam controlar tudo e mais alguma coisa. São cheios de opiniões ultrapassadas, não percebem a realidade e querem ficar metendo-se onde não são chamados. É a fase da rebeldia, do desejo de desafiar os pais e também irritá-los, provando que eles vivem num outro tempo.
A adolescência é o momento onde já não se é criança, mas também não se é jovem, muito menos adulto. Esse hiato faz com que, não queiram estar no meio das crianças, desejam estar entre os jovens, mas estes não os desejam no seu círculo de amizades. Portanto, cria-se um gueto e vive-se fechado nele.
Este é o período das indefinições, das depressões e muitas complicações. É o tempo das mudanças. A voz muda, o corpo transforma-se, vive-se inquietações e muitas frustrações. Tudo é estranho, mas também é um período desafiante e estimulante e o maior desejo é o de ser aceito e amado.
É vivendo todas essas situações que se caminha para o amadurecimento. Assim é a adolescência, uma caminhada feita de lutas e provações. É a fase dos erros, mas de muitos acertos e afirmações. É aqui que se consolidam as grandes amizades e se criam os sonhos para toda a vida.
Já não sou adolescente, não vivo mais essas inquietações, não tenho mais o amor platônico. Contudo, trago sonhos que carrego desde a época de minha adolescência e um destes sonhos é a escrita. Sempre gostei de escrever e na adolescência cheguei a imaginar-me como escritor. Escrevo por teimosia, continuo rabiscando e quem sabe um dia aprenda a escrever e venha a ser o escritor que sonhei.
Hoje sou pai de um casal que já viveram sua adolescência e lutei para que os dilemas existenciais deles fossem minimizados. Lutei para que eles olhassem para mim, como me olhavam quando criança, tendo-me como modelo e padrão. Sempre me esforcei para não ser o dono da verdade, achando que eles não sabiam de nada e que me deviam obediência cega. Lutei comigo mesmo, porque sei que a luta travada consigo mesmo é muito mais árdua e se não houver alguém para caminhar a seu lado será catastrófico. Lutei com todas as minhas forças para que meus filhos não vivessem as mesmas experiências que eu vivi. Contudo, procurei ser um pai presente, mas nunca um tirano, opressor. Fui amigo quando devia ser, democrático e não ditador. Claro que meus filhos tiveram que ouvir muitas vezes a palavra “não”, pois esta faz parte da formação de todo ser humano e uma coisa que tenho aprendido nessa vida é que o não será a palavra que mais eles irão escutar em sua existência.
A adolescência é a fase das mudanças radicais e eu já não sou adolescente, mas reconheço que preciso continuar mudando a cada dia. É impossível para mim permanecer o mesmo, pois até meu corpo muda. Entretanto, há valores que são inegociáveis, princípios que precisam ser carregados por toda a vida e estes eu aprendi em criança, cheguei a lutar contra eles na adolescência, mas depois que me tornei pai, transmiti-os aos meus filhos, fi-lo porque a Escritura diz: “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.” (Pv 22.6). Espero e desejo que meus filhos sigam o meu exemplo, mas que evitem cometer os mesmos erros que eu cometi.
Adolescer é crescer. Adolescer é amadurecer. Meus filhos trilharam esse caminho, mas espero que eles sigam pela vida tomando decisões acertadas, mas se por algum acaso, eles errem e sei que irão errar, que saibam que sempre poderão contar com o meu amor incondicional como eu também um dia contei.