Ame o seu irmão

No decorrer da história, o cristianismo tornou-se uma religião institucionalizada, estruturada e muitas vezes apoiando e sendo apoiada pelo Estado. Ou seja, como religião, no seu percurso, tem um legado de violência. Nesse sentido, ela foi preponderantemente na perpetuação de uma violência sistêmica nas diversas sociedades em que estava inserida. Logo, a igreja cristã feriu e foi ferida. Como afirma Halík: “Mas a verdadeira Igreja de Cristo, formada por seres humanos como vós e eu, e, no meio do mundo, cheia de homens como vós e eu, será sempre, de algum modo, ferida e ela própria há de ferir”. Contudo, o cristão não pode e nem deve ferir. Quando Pedro puxou da espada e cortou a orelha de Malco, servo do sumo sacerdote, o Senhor Jesus mandou Pedro guardar sua espada (Jo 18.10-11). Portanto, não dá para imaginar um discípulo de Jesus destilando ódio e incentivando a violência, pois tais atitudes refletem que “não imitámos o Filho, mas, sim, com frequência, os maus vinhateiros, que apedrejaram, espancaram e mataram os profetas a eles enviados” e, por último, mataram o próprio Filho. O apóstolo João declara que o cristão verdadeiro é uma pessoa que ama, pois o amor de Deus se faz presente n’Ele e ele declara:
“Deus nos deu seu Espírito como prova de que permanecemos nele, e ele em nós. Além disso, vimos com os próprios olhos e agora testemunhamos que o Pai enviou seu Filho para ser o Salvador do mundo. Aquele que declara que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus. Sabemos quanto Deus nos ama e confiamos em seu amor. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele. À medida que permanecemos em Deus, nosso amor se torna mais perfeito. Assim, teremos confiança no dia do julgamento, pois vivemos como Jesus viveu neste mundo. Esse amor não tem medo, pois o perfeito amor afasta todo medo. Se temos medo, é porque tememos o castigo, e isso mostra que ainda não experimentamos plenamente o amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém afirma: “Amo a Deus”, mas odeia seu irmão, é mentiroso, pois se não amamos nosso irmão, a quem vemos, como amaremos a Deus, a quem não vemos? Ele nos deu este mandamento: quem ama a Deus, ame também seus irmãos” (1 Jo 4.13-21).
Quais são as lições que aprendemos com esse texto?
A primeira lição que o texto apresenta é que só se testemunha de Cristo através do Espírito Santo que habita no seu discípulo. Portanto, falar em nome de Cristo pode ser um ato vazio se a pessoa não tem uma experiência transformadora com o Senhor. Fazer parte de uma igreja, professar-se como cristão, não torna a pessoa um verdadeiro discípulo de Jesus, como afirma Halík: “Quantos de nós, sobre cujas cabeças foi vertida a água do batismo, se converteram realmente a Cristo, sobretudo a Cristo nos necessitados, de modo que o nosso rosto reflita realmente a luz da sua face no meio da penumbra do mundo?”
A segunda lição que o texto apresenta é que o objetivo é que o discípulo seja como o Senhor. Portanto, o viver do discípulo tem que ser uma cópia do viver do seu Mestre, buscando ser como Ele é. Sendo assim, como que estamos afirmando, como estamos agindo em relação aos demais? Nossas atitudes manifestam a pessoa de Jesus?
A terceira lição que o texto ensina é que o verdadeiro discípulo vive em amor e sem medo. É essencial entender que, ao compreendermos o amor de Deus e o aceitamos, podemos amar o nosso semelhante. A maneira que temos de demonstrar o amor de Deus é exteriorizando o amor que recebemos do Senhor aos demais, pois o amor é demonstrado através de ações e não somente de sentimentos. Sendo assim, são as nossas atitudes que demonstram se realmente amamos a Deus e ao nosso semelhante.
O discípulo de Jesus Cristo não é um ser bélico e muito menos um mero religioso. O discípulo é uma pessoa que vive desprendida de muitas coisas que a vida pode oferecer-lhe, é alguém que valoriza e ama tanto a Deus como ao seu semelhante e não apregoa o ódio e muito menos valoriza somente o ter. Sendo assim, fica-nos a questão: Tu és discípulos de Jesus?