Antes de dizer adeus

Meu pai dizia que, se alguém desejasse ou quisesse fazer algo por ele, que o fizesse em vida. Foi este motivo que me fez largar tudo e ir até Manaus, enquanto ele estava com vida. Fui para dizer-lhe o quanto eu o amava e admirava. É verdade, as rosas devem ser entregues em vida. Os elogios devem ser feitos agora.
Os espanhóis têm um ditado que diz: “Deus te livre do dia dos elogios”. Este é o dia da tua morte. Infelizmente os elogios, as flores chegam somente quando a pessoa morre, e é aí, que percebemos tudo o que ficou por viver, tudo o que ficou por dizer. Sendo assim, a dor nos consome e muitas vezes nos arrependemos de coisas tão banais que fizemos ou escolhas que nos afastaram de quem amamos.
O tempo das homenagens é hoje. É o tempo dos abraços e dos beijos. A festa deve ser feita em vida. O amor tem que ser no presente. Gosto do que diz Maria Virgínia Cunha “Neste caminhar terreno sabemos que há um final. Vale a pena viver o presente, valorizar as coisas simples de cada dia. Viver o essencial, sem nos sobrecarregarmos com o peso do passado ou os medos do futuro.” O tempo de viver e amar é no presente. A Escritura diz que Jesus quando foi celebrar sua última Páscoa, sabia que seu tempo estava chegando ao fim, mas João declara que Ele, “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo.13.1). Não houve desistência e amou no presente.
O tempo de viver e amar é hoje. Não sabemos quando será o nosso acorde final. O tempo de expressarmos gratidão e valorizarmos os relacionamentos é no presente. Rubem Alves diz: “A morte é o último acorde que diz: está completo. Tudo o que se completa deseja morrer.” Entretanto, vivemos como se este dia não fosse chegar e adiamos os abraços, as visitas. Deixamos sempre para o amanhã, e depois, percebemos que já é tarde demais.
Não permita que seja tarde demais. Aproveite o hoje e faça a diferença na vida daqueles que são importantes para você, não importa se eles estão doentes, moribundos. Michele Reiss diz: “a vida só se acaba mesmo no fim e que podem ainda acontecer coisas espantosas durante o fecho da vida. Até o derradeiro instante, as pessoas poderão sempre surpreender-nos – podem até surpreender-se a si próprias. É claro que nem toda gente que enfrenta a morte consegue, ou quer, aproveitar esta oportunidade de tratar de assuntos adiados ou de redirecionar a sua história de vida.” A oportunidade que temos de fazer a diferença é hoje. Hoje é o tempo de amar.
Hoje é o dia para entregar as flores. É o dia do abraço e da demonstração do amor. Hoje é o dia que temos para valorizar a vida e amar. É preciso viver expressando nossos sentimentos e emoções. É preciso entender que o fim é uma realidade. A morte ensina-nos a viver. Bem diz Rubem Alves: “Acho que, para recuperar um pouco da sabedoria de viver, seria preciso que nos tornássemos discípulos e não inimigos da Morte. Mas, para isso, seria preciso abrir espaço nas nossas vidas para ouvir sua voz.” Perceber que a morte é certa e que pode chegar a qualquer momento nos faz valorizar o essencial.
Agarre o dia! Viva na comunhão daqueles que lhe são amados. Expresse o seu amor a eles. Doe-se de maneira incondicional. Ame, mas lembre-se do seguinte: “Para quem se permite o gesto de amar, há-de haver uma altura, mais cedo ou mais tarde, em que será necessário arranjar maneira de lidar com o pesar do luto.” Sim, vai chegar o dia da despedida. Chegará o dia em que ter-se-á que pagar o preço por se ter amado.
Ame e diga o quanto ama no presente. Não espere pelo amanhã. Diga-o agora, antes de dizer adeus e nunca depois do adeus.