Aproveitando a oportunidade

O ser humano vive sem pensar na morte, mas é diante dela que ele para e pondera sobre a vida. É diante de um morto, que ele pensa na sua própria vida e como tem vivido e é aí, quando olha para este ser que já não é, que os erros e defeitos do falecido são postos de lado, esquecidos e chora-se lamentando a sua partida e o seu valor é reconhecido.
Pensando nisso, faço a seguinte pergunta: Por quê esperar a pessoa morrer, para reconhecer o seu valor? Depois que ela morreu os elogios ficam sem sentido. Meu velho pai dizia que se alguém desejasse elogiá-lo, ou fazer algo por ele, deveria fazê-lo em vida. Isso foi essencial para mim, marcou-me de tal maneira que, quando ele teve o último AVC, que culminou com o seu falecimento, larguei tudo para ir ao seu encontro. Meu velho ensinou-me que não podemos deixar que as oportunidades passem. É em vida que os elogios devem ser feitos, o reconhecimento do que foi realizado deve ser declarado. Não podemos deixar de nos aproximar do outro, mesmo que isso implique correr o risco de parecer estúpidos, pelo simples fato de mostrarmos os nossos sentimentos e tomarmos atitudes que enalteçam o outro.
A parábola do bom samaritano (Lc 10.25-37) desafia-me, pois nela encontro ensinamentos do que não posso fazer, mas também como devo viver e agir. A leitura desse texto mostra-me que não posso viver uma religiosidade centrada apenas no templo, mas que ao sair de lá, não gera compromisso com o meu próximo. Se isso não acontecer, perco a oportunidade de manifestar a misericórdia de Deus através de minha vida.
Não se pode ser santo aos domingos, na igreja, mas ao sair de lá, ser uma pessoa insensível que não tem compaixão alguma para com os que sofrem. Não dá para passar pela vida perdendo as oportunidades que Deus nos concede para que possamos agir em prol do nosso semelhante, mostrando o mesmo amor que houve em Cristo Jesus.
É preciso ser como o samaritano no dia a dia que, não estando no templo, percebia que estava na presença de Deus e, por isso, não perdeu a oportunidade de socorrer o aflito. A história ensina-me a correr o risco de sofrer por causa do outro, entregar-me sem reservas para ajudar o meu próximo que está sem sofrimento, mesmo sem saber quem ele é.
O samaritano ensina que eu devo amar o meu semelhante como a mim mesmo, e, é esse amor que faz com que haja uma entrega plena de minha parte, para poder vê-lo desfrutando de saúde e qualidade de vida. O amor faz com que o ser seja mais valorizado que o ter e, portanto, o dinheiro será utilizado para promover o bem-estar do outro. Sendo assim, diante do sofrimento alheio, não podemos perder a oportunidade de ser como Cristo que se entregou por amor, e se sou cristão e digo que estou crucificado com Cristo (Gl 2.20), as minhas atitudes devem manifestar essa realidade.
"Assim já não sou eu quem vive, mas Cristo é quem vive em mim. E esta vida que vivo agora, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se deu a si mesmo por mim." Gl 2.20
Refletindo sobre a história do samaritano e os dias atuais, percebo que não posso passar pela vida de maneira indiferente, insensível. Preciso aproveitar as oportunidades, devo demonstrar amor ao meu próximo, seja ele quem for. Não dá para ficar calado e indiferente. O tempo chegou e é hoje, pois o amanhã não virá.
Não espere pela cerimônia fúnebre para fazer os elogios. Aproveite as oportunidades e faça os elogios em vida, fale agora, agradeça hoje e diga que ama enquanto há vida. O tempo de manifestar o amor é o presente. Sendo assim, na caminhada da vida, não seja um religioso insensível.
Meu velho estava correto e, portanto, vou aproveitar diariamente todas as oportunidades, para ser um samaritano e manifestar a misericórdia e o amor de Deus a todos quanto necessitarem.