Cada qual no seu devido lugar

Estamos vivenciando um momento muito delicado da história da humanidade. Por um lado, enfrentamos uma pandemia que veio para mostrar que continuamos frágeis e dependentes uns dos outros e, por outro lado, percebemos que há um extremismo político religioso que faz com que em muitas nações, política e religião estejam de mãos dadas e se confundam. Em sentido oposto, também percebemos que há países que se afastaram de tal modo da questão religiosa que por tentar matá-la, fizeram do seu sistema político sua plataforma ideológica. Em linhas gerais, percebemos, religião e política se misturam, mas a verdade é que devem caminhar paralelamente. Política e religião não precisam estar de costas voltadas, mas devem caminhar lado a lado. O evangelho de Marcos mostra que há um momento na vida de Jesus Cristo em que os líderes religiosos e políticos tentam apanhá-lo em alguma falha, no entanto, o Senhor os surpreende manifestando que é essencial ter a separação dos poderes. Eis a narrativa de Marcos:
“Mais tarde, os líderes enviaram alguns fariseus e membros do partido de Herodes com o objetivo de levar Jesus a dizer algo que desse motivo para o prenderem. Disseram: “Mestre, sabemos como o senhor é honesto. É imparcial e não demonstra favoritismo. Ensina o caminho de Deus de acordo com a verdade. Agora, diga-nos: É certo pagar impostos a César ou não? Devemos pagar ou não?”. Jesus percebeu a hipocrisia deles e disse: “Por que vocês tentam me apanhar numa armadilha? Mostrem-me uma moeda de prata, e eu lhes direi”. Quando lhe deram a moeda, ele disse: “De quem são a imagem e o título nela gravados?”. “De César”, responderam. “Então deem a César o que pertence a César, e deem a Deus o que pertence a Deus”, disse ele. Sua resposta os deixou muito admirados” (Mc 12.13-17).
Quais são as lições que aprendemos com esse texto?
A primeira lição ensina que reconhecer que Jesus é verdadeiro e autêntico não é suficiente. O texto deixa claro que aquelas pessoas reconheciam a autenticidade e veracidade de Jesus, que o seu ensino era verdadeiro e, apesar de tudo, não se submetiam ao Mestre. Portanto, mais do que reconhecer quem é Jesus e a verdade do seu ensino é fundamental obedecê-lo e reconhecê-lo como o Senhor de sua vida.
A segunda lição ensina que não podemos viver buscando encontrar erros na vida dos outros. O Senhor Jesus olhou para aquelas pessoas e disse-lhes que sabia que elas estavam tentando encontrar alguma falha n’Ele. Além disso, Ele mostrou que a bajulação era falsa e que a única preocupação era apanhá-lo em alguma falha. Portanto, o Senhor nos diz que não podemos ficar buscando erro na vida dos outros e muito menos falhas na vida d’Aquele que foi e é infalível!
Por último, o Senhor nos ensina que a nossa lealdade deve ser a Deus e não aos poderes políticos. O Mestre reconheceu o poder político, mas deixou claro que o poder político limita-se apenas à esfera terrena e que esse não pode ser adorado. Entretanto, o Senhor deixa claro que é fundamental ter Deus acima de tudo. Sendo assim, não é Deus acima de todos, mas sim Deus acima de tudo, pois Ele é o Soberano.
Recapitulando, religiosos e políticos dirigiram-se até Jesus com o intuito de prová-lo e apanhá-lo em alguma falha. Aqueles homens questionaram o Mestre sobre a questão do tributo, mas muito mais do que isso, sobre a questão a quem se deve fidelidade. Nesse sentido, o Senhor lhes respondeu afirmando que há espaço para o governo civil, mas que acima dele está a Soberania de Deus e aqui devemos lembrar que cada um deve ficar em seu devido lugar, mas diante de leis espúrias devemos dizer como os apóstolos: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29).