Com preconceito

Vivemos um momento social em que o recrudescimento do extremismo é alarmante e, com ele, observamos o aumento da violência, ao vermos o preconceito sendo exposto das mais variadas formas. Exemplo disso, foi o que aconteceu a um jovem negro, vendedor de rua do Rio de Janeiro, e que foi alvo de tiro disparado por um segurança de um determinado shopping da cidade. O mais estarrecedor é saber que o jovem havia entrado naquele centro comercial para tão somente comprar um sorvete. Por ser negro, foi vítima de preconceito e confundido com um ladrão. Mas não podemos deixar de refletir que tal preconceito também não ache guarida onde não deveria, ou seja, nos espaços religiosos. Esse preconceito se manifesta dentro das igrejas, a exemplo o que aconteceu a uma família ao chegar a uma determinada igreja, para ali manifestar a sua fé. Essa família, por estar num carro popular, foi orientada a dirigir-se a uma igreja da periferia, lugar que lhe era mais adequado. Outro caso absurdo foi o de uma família que chegou à igreja com um carro topo de gama e abriram-lhes o estacionamento, foram recebidos com pompa e circunstância. Em outra oportunidade, regressaram a essa mesma igreja, só que, dessa vez, porém em um carro inferior, quando lhes foi vedada a entrada, mentiram-lhes e afirmaram que o estacionamento estava cheio. Mesmo assim, eles decidiram participar da celebração naquele templo e ao entrarem, perceberam o estacionamento vazio.
A Escritura afirma que fazer acepção de pessoas é pecado e que devemos rever nossas atitudes, pois muitas vezes, fazemos parte do grupo daqueles que não aceitam que Jesus conviva com pecadores, igualmente ao que encontramos na narrativa de Lucas:
“Todos os que viram isto murmuravam, dizendo que ele se hospedara com homem pecador” (Lc 19.7).
Quais são as lições que essa declaração nos ensina?
A primeira lição é que quem age com preconceito se julga melhor do que os demais. É a lógica do nós e eles. As pessoas que ficaram do lado de fora da casa de Zaqueu censuraram Jesus por estar junto aos pecadores e não a eles, os que se julgavam não pecadores. Ou seja, eles se julgavam melhores e superiores a Zaqueu. E quanto a nós, será que não temos tido a mesma atitude?
A segunda lição é que quem age com preconceito é incapaz de perceber que os demais são tão dignos da graça de Deus quanto eles. A lógica desses murmuradores é que a graça não poderia alcançar um corrupto como Zaqueu, pois para eles a graça de Deus era restrita. Portanto, havia um público que não era digno de receber a graça de Deus. Para os murmuradores, Deus deve salvar apenas um determinado tipo de pessoas.
Por último, os murmuradores são incapazes de se abrir para conviver com seu semelhante. O texto deixa claro que a censura feita a Jesus é por estar convivendo com Zaqueu, celebrando a vida e, acima de tudo, levando a mensagem da graça de Deus. O irónico é que os murmuradores ficam do lado de fora observando, censurando e criticando, mas são incapazes de celebrar e conviver com seu próximo. Será que não somos assim também?
Infelizmente, há inúmeros exemplos e histórias que mostram que agimos com preconceito. Pensamos que a graça de Deus está confinada para alguns apenas, mas é bom olharmos para Jesus e ver que Ele acolheu a todos e celebrou a vida com eles. Dessa forma, fica a pergunta: Seguirás o exemplo de Cristo ou daqueles que murmuravam do lado de fora da casa de Zaqueu?