Conflitos

As notícias são assustadoras, pois estamos vivendo neste tempo de pandemia e do pandemônio familiar. Parece um contrassenso, mas a verdade é que o confinamento causado pelo covid-19 gerou várias crises e a maior delas é a crise familiar. Aliás, o confinamento veio mostrar o quanto a família está fragilizada.
É assustador ver o número alarmante de casos de covid-19 e, também é triste ver o número de mortos. Entretanto, não podemos deixar de lamentar o aumento da violência familiar neste período. Isto é algo muito grave, pois este período seria uma oportunidade para a família se reunir, desfrutar de tempo juntos, até porque, não havia tempo para se estar em família, mas quando este chegou, a tragédia veio junto, e, a violência familiar disparou.
Conflitos são normais dentro da relação familiar. A violência é um ato de desespero e abuso. Conflitos mostram que a relação está viva, nos faz debater e mostrar que existimos e temos vontade própria e é na discussão, no debate, que acontecem as cedências, chega-se a um denominador comum. Contudo, a violência é um ato ditatorial que destrói e desumaniza a relação.
O covid-19 veio mostrar a fragilidade do tecido familiar e muito do que vemos é em função das pessoas, primeiro desejarem construir e consolidar o seu futuro e depois pensarem em partilhar a vida. Nos tempos idos, as pessoas queriam construir um projeto conjunto e o casal lutava por ele. Hoje cada um tem seu projeto e por isso, caminham paralelamente e as paralelas nunca se encontram.
O confinamento ocasionado por causa do covid-19 manifesta a fragilidade da família. O aumento da violência mostra a incapacidade do diálogo e essencialmente o desejo de se ter sempre razão e quando faltam argumentos, parte-se para a violência. O que este período ensina-nos, é que precisamos rever todo nosso modo de vida e torna-se fundamental, assumirmos a culpa e pararmos de culpabilizar o outro.
O processo de vitimização é antigo. O jogar a culpa para cima do outro vem desde os primórdios da história da humanidade. Vejamos o diálogo narrado em Gênesis: “E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses? Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi. E disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.” (Gn 3.9-13). A culpa sempre tem que cair em cima do outro e o dito popular diz que ela não pode morrer solteira.
O confinamento está afetando e muito as famílias. Contudo, é hora de parar e rever o que estamos fazendo e em vez de ficarmos atirando a culpa para o outro, melhor é sentar e assumir a nossa própria culpa, perdoar e ser perdoado e seguir em frente unidos, percebendo que os conflitos são uma oportunidade para o amadurecimento e fortalecimento familiar.