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Culto ou comício?



Durante o período eleitoral vemos os candidatos se tornarem os nossos melhores amigos. Parece até que eles são onipresentes, pois estão em todos os lados e acredite se quiser, são as pessoas mais simpáticas e empáticas que existem. Vale tudo para ser reeleito ou se eleger. Após esse período… bem aí já é uma outra história.

Vivo em Portugal, um país com forte tradição católica, que se afirma como laico, mas a laicidade daqui deixa muito a desejar. Sou brasileiro, um país que se diz maioritariamente cristão, (o que é muito questionável), que já foi um país católico, mas hoje é um país que afirma ser laico, mas seguindo o exemplo dos nossos “conquistadores” a laicidade brasileira é uma colcha de retalhos.

Esses dois países que se afirmam laicos têm em comum o peso da religião e a interferência da religião ou religiões predominantes em algumas decisões e até mesmo o peso da tradição para pressionar tanto o político, como o eleitorado e ter a sua vontade feita. E assim, religião e política seguem entrelaçadas, amigadas numa relação espúria, que não dignifica ambos. Creio e defendo que o Estado seja laico e venho de um grupo histórico que sempre defendeu a separação Religião x Política. Defendo que a pessoa deve ter liberdade para poder professar qualquer religião ou não, sem interferência do Estado, mas o Estado não pode receber interferência de qualquer religião que seja. Entretanto, não é isso o que acontece. Foi veiculada uma notícia do aniversário do pastor presidente de uma das maiores igrejas evangélicas do Brasil e a notícia seguia afirmando que foi celebrado um culto e o mesmo reuniu algumas das principais autoridades do país, até aí tudo bem, o problema começa quando o que deveria ser culto transforma-se em espetáculo e comício.

Aprendi que o púlpito é para proclamar o evangelho e nada além e sigo com este pensamento. Não entendo um culto onde pessoas apupam uns, aplaudem outros e utilizam máscara com a imagem de um político. Triste de um povo que se assume como cristão, mas deposita a sua esperança em um homem e o idolatra de tal forma que perde a noção do que seja adoração. Se me perguntarem se sou a favor da homenagem ao pastor direi que sim e também sou favorável que se faça um culto de gratidão por sua vida, mas sou totalmente contra que transformem um culto de adoração a Deus em um ato político.

Quero um Estado laico e toda e qualquer confissão religiosa livre. Assumo que sou cristão, de tradição evangélica histórica, mas sou totalmente contra que líderes religiosos apresentem suas funções eclesiásticas para granjearem carreiras políticas. Não apoio que seja eleito um juiz para o Supremo Tribunal Federal com a prerrogativa de que é pastor. Ele precisa ser juiz e não pastor. Ele deve entender de constituição e leis. Alguns dirão que Davi era pastor e concordarei, mas quando ele assumiu o reinado, deixou o pastorado de lado, pois uma coisa não se mistura com a outra.

O espaço de culto deve ser para adoração a Deus e não pode ser transformado em palanque de comício. Não pode ser um culto de adoração ao homem ou a qualquer fonte de tentação. A Escritura narra a tentação de Jesus e ali há um momento em que sobrevem a tentação política, do poder, do governo do mundo e a resposta de Jesus a satanás é: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto.” (Mt 4.10b). Se é culto, deve ser para Deus, reconhecendo sua grandeza e adorando-O por Ele ser quem é. Se é comício, que seja feito em praça pública e que seja realizado por cidadãos livres que respeitam o Estado de direito e também a liberdade religiosa.

Na igreja eu desejo sempre culto, quero sempre adorar a Deus e nunca um comício.


#refletir #vidacristã

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