Dá-lhe vida

A vida tem que ser vivida até o fim e, além disso, ela deve ser vivida com dignidade. Precisamos falar de vida pois nesse momento tão delicado que atravessamos, observo com tristeza que o parlamento português votou o diploma da lei da eutanásia. Quem dera os políticos lessem o que escreveu o Dr. Luís Paulino Pereira, no prefácio do livro Contra a Eutanásia de Lucien Israël, pois ele afirma que: “Falar em morte assistida, morrer com dignidade ou eutanásia ainda que seja a pedido do doente é como que uma ajuda ao suicídio. É um ato que tem por finalidade acabar com a vida e não com o sofrimento, é depositar na consciência dos médicos a responsabilidade da decisão dos doentes. O médico passará assim, de aliado do doente a “carrasco” da sua condenação”. (2016, p.7). Num tempo em que a morte virou notícia mundial, é inconcebível um parlamento pensar aprovar um diploma como este.
A morte faz parte da vida e a sua chegada é certa e há o tempo de morrer, mas que tempo é esse? Bénédcicte Rivoire declara: “Este tempo é o momento em que cada um tomou ou começa a tomar consciência de que o facto está próximo, a separação inevitável, mas em que nada foi ainda dito ou expresso sobre o assunto” (2009 p.10), mas enquanto a pessoa se encontra no leito de morte, ainda que esteja a viver os seus últimos momentos de vida e por mais que saibamos que ela irá morrer, temos que ter a capacidade de dar-lhe vida. A vida deve ser celebrada e não a morte. E nas palavras de Lucien Israël: “O maior perigo para uma sociedade que legalize a eutanásia, médica ou não, é o de perder a sua alma” (2009 p.95). Leio estas palavras e recordo-me o que o Mestre diz: “Pois o que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?” (Mt 16.26).
Jesus num determinando momento, censurou os líderes religiosos dos seus dias, que apenas queriam tirar proveito do povo e não se preocupavam em nada com ele, por isso, afirmou: “O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10.10). E se nós nos afirmamos cristãos, somos defensores da vida e de uma vida abundante. Somos cuidadores e convidados a imitar o Bom Samaritano, disponibilizando-nos para aqueles que estão estendidos pelo caminho e dando-lhes vida e vida abundante.
Triste saber que num momento em que lemos e ouvimos sobre tantas mortes, o parlamento português aprova uma lei permitindo a eutanásia. Quero a vida e quero-a até o fim. Eu sei que chegará o dia em que partirei e os que eu amo também. E aqui é bom refletir nas palavras de Bénédicte Rivoire: “É verdade, aquele que amas vai morrer, dentro de algumas horas, alguns dias, algumas semanas: pouco importa, afinal, saber quando precisamente, pois por agora ele está presente. Ele próprio, por inteiro, apesar das aparências. Por isso, não tenhas medo, entra em pleno neste tempo tão especial que vos é dado, para o viveres com ele, a seu lado, em verdade. Permite-lhe, ajuda-o a ser ele próprio permanecendo tu próprio e reservando para ele o olhar do teu coração” (2009, p.61). É celebrar a vida até o fim, amar sem desistir e aqui, recordo as palavras do apóstolo João: “Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13.1). Amar e amar até o fim, concedendo vida e vida plena.
Eu quero celebrar a vida. Quero viver uma vida plena e cheia de amor, e quero amar até o fim, até porque o Senhor Jesus definiu toda Escritura nos seguintes mandamentos: “O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Mc 12:29-31), pois o Amor gera vida e vida abundante.