Desfrute da vida

A perda de sentido conduz o ser humano ao niilismo, ou seja, à crença de que nada faz sentido. Quanto a isso, Anselm Grün afirmou que “entristece-nos ver alguém envelhecer tão prematuramente. Talvez esse homem ou esta mulher tenham perdido a esperança. Ele simplesmente vive por viver. Já não acalenta sonhos. Não se deixa entusiasmar. Está esgotado. Já não há combustível nele que queime e também aqueça a outros. Tais pessoas emanam algo de deprimente”. O livro de Eclesiastes nos mostra essa realidade, pois nos apresenta alguém desiludido com a vida, que percebeu que todo o esforço sem Deus foi em vão. Portanto, o autor passa a dizer que a vida só faz sentido se for vivida dentro da perspectiva de Deus, ao afirmar:
“Mas, ao olhar para tudo que havia me esforçado tanto para realizar, vi que nada fazia sentido; era como correr atrás do vento. Não havia nada que valesse a pena debaixo do sol. Então resolvi comparar a sabedoria com a loucura e a insensatez (pois quem pode fazê-lo melhor que eu, o rei?). Pensei: “A sabedoria é melhor que a insensatez, assim como a luz é melhor que as trevas. O sábio vê para onde está indo, mas o tolo anda na escuridão”. Apesar disso, vi que o sábio e o tolo têm o mesmo destino. Disse a mim mesmo: “Uma vez que terei o mesmo fim do tolo, de que vale toda a minha sabedoria? Nada disso faz sentido!”. Pois nem o sábio nem o tolo serão lembrados por muito tempo; ambos morrerão, e logo serão esquecidos. Por isso, passei a odiar minha vida, pois tudo que é feito debaixo do sol é frustrante. Nada faz sentido; é como correr atrás do vento. Passei a odiar todo o meu árduo trabalho debaixo do sol, pois deixarei para meus sucessores tudo que me esforcei para obter. E quem pode dizer se eles serão sábios ou tolos? No entanto, terão controle sobre tudo que consegui debaixo do sol, com minha habilidade e meu esforço. Isso não faz o menor sentido! Assim, cheguei a me desesperar e questionei o valor de todo o meu árduo trabalho debaixo do sol. Algumas pessoas trabalham com sabedoria, conhecimento e habilidade, mas terão de deixar o resultado de seu trabalho para alguém que não se esforçou. Isso também não faz sentido; é uma grande tragédia. O que as pessoas ganham com tanto esforço e ansiedade debaixo do sol? Seus dias de trabalho são cheios de dor e tristeza, e nem mesmo à noite sua mente descansa. Nada faz sentido. Por isso, concluí que a melhor coisa a fazer é desfrutar a comida e a bebida e encontrar satisfação no trabalho. Percebi, então, que esses prazeres vêm da mão de Deus. Pois quem pode comer ou desfrutar algo sem ele? Deus concede sabedoria, conhecimento e alegria àqueles que lhe agradam. Se, porém, um pecador enriquece, Deus lhe toma a riqueza e a entrega àqueles que lhe agradam. Isso também não faz sentido; é como correr atrás do vento” (Ec 2.11-26).
Quais são as lições que esse texto apresenta para nós?
A primeira lição que o texto ensina é que devemos viver com prazer sabendo que a morte é certa. Não gostamos de pensar na morte, muito menos de falar sobre ela, mas todos nós estamos na fila e não sabemos quando será a nossa vez. Por isso, é preciso desfrutar da vida e vivê-la com prazer. A morte é o destino de todos, apesar de não a desejarmos como bem cantava Gozaguinha “Ninguém quer a morte / Só saúde e sorte”, ela sempre chega. Por isso, é preciso viver com prazer e quem deseja viver pensa que tem a capacidade de refletir sobre a morte, pois ela nos ensina a viver. Portanto, viva a vida intensamente, dentro da perspectiva daquilo que Deus lhe deu, pois não sabemos o dia em que a morte vai chegar.
A segunda lição que o texto ensina é que devemos viver com prazer, mas sabendo que iremos sofrer. O autor deixa isso claro e mostra-nos que o sofrimento faz parte da vida. Contudo, devemos aprender a reter as lições dele para que possamos aprender a viver com graça e em graça, ou seja devemos reavaliar o sofrimento para que possamos evitar o sofrimento desnecessário, enfrentar o sofrimento inevitável e dar sentido e significado a ele, pois não podemos fugir dele. O sofrimento faz parte da vida, mas na vida temos que aprender a dar significado a ele, sem perder a perspectiva de que a vida pode ser vivida com sentido e sob a graça de Deus.
A terceira lição que o texto ensina é que devemos desfrutar da vida hoje. O autor diz que é preciso viver o presente, sem essa ânsia de acumular e granjear coisas para um futuro que não sabemos se chegará. O nosso tempo é hoje e é aqui e agora que devemos desfrutar a vida. Hoje, é o dia para se viver, é o dia do abraço, do beijo é o dia para viver. É como diz a canção do Jota Quest “Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua / Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria / Em estar vivo, vivo”. Desfrute do presente!
Por último, o autor nos ensina que devemos viver a vida com prazer, pois ela é uma dádiva de Deus. Sendo ela dádiva de Deus, devemos desfrutar da vida e ser gratos a Deus por tudo o que Ele nos concede. Desfrute da vida e viva com alegria, pois esse é o propósito de Deus, que sejamos alegres. Portanto, é preciso aprender a viver com graça, dentro da perspectiva de Deus.
No meio da desesperança, no caos existencial, o autor de Eclesiastes parou e olhou para Deus e reconheceu que devia aprender a desfrutar da vida por ser uma dádiva de Deus. Para ti, a vida é uma dádiva de Deus? e como é que tu tens vivido?