É a Escritura e não a tradição

O evangelho de Marcos mostra-nos que o Mestre era uma pessoa relacionável e que interagia com todas as pessoas. Ele era alguém que sabia lidar com as críticas e sempre teve o cuidado de explicar o que as Escrituras ensinam. Um texto que evidencia isso, é um que relata que:
“Certo dia, alguns fariseus e mestres da lei chegaram de Jerusalém para ver Jesus. Observaram que alguns de seus discípulos comiam sua refeição com as mãos impuras, ou seja, sem lavá-las. (Pois todos os judeus, sobretudo os fariseus, não comem sem antes lavar cuidadosamente as mãos, como exige a tradição dos líderes religiosos. Quando chegam do mercado, não comem coisa alguma sem antes mergulhar as mãos em água. Essa é apenas uma das muitas tradições às quais se apegam, como a lavagem de copos, jarras e panelas.) Então os fariseus e mestres da lei lhe perguntaram: “Por que seus discípulos não seguem a tradição dos líderes religiosos? Eles comem sem antes realizar a cerimônia de lavar as mãos!”. Jesus respondeu: “Hipócritas! Isaías tinha razão quando profetizou a seu respeito, pois escreveu: ‘Este povo me honra com os lábios, mas o coração está longe de mim. Sua adoração é uma farsa, pois ensinam doutrinas humanas como se fossem mandamentos de Deus’. Vocês desprezam a lei de Deus e a substituem por sua própria tradição”. Disse ainda: “Vocês se esquivam com habilidade da lei de Deus para se apegar à sua própria tradição. Por exemplo, Moisés deu esta lei: ‘Honre seu pai e sua mãe’ e ‘Quem insultar seu pai ou sua mãe será executado’. Vocês, porém, ensinam que alguém pode dizer a seus pais: ‘Não posso ajudá-los. Jurei entregar como oferta a Deus aquilo que eu teria dado a vocês’. Com isso, desobrigam as pessoas de cuidarem dos pais, anulando a palavra de Deus a fim de transmitir sua própria tradição. E esse é apenas um exemplo entre muitos outros”. Jesus chamou a multidão para perto de si e disse: “Ouçam, todos vocês, e procurem entender. Não é o que entra no corpo que os contamina; vocês se contaminam com o que sai do coração. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça com atenção!”. Então Jesus entrou numa casa para se afastar da multidão, e seus discípulos lhe perguntaram o que ele queria dizer com a parábola que havia acabado de contar. “Vocês também ainda não entendem?”, perguntou. “Não percebem que a comida que entra no corpo não pode contaminá-los? O alimento não vai para o coração, mas apenas passa pelo estômago e vai parar no esgoto.” (Ao dizer isso, declarou que todo tipo de comida é aceitável.) Em seguida, acrescentou: “Aquilo que vem de dentro é que os contamina. Pois, de dentro, do coração da pessoa, vêm maus pensamentos, imoralidade sexual, roubo, homicídio, adultério, cobiça, perversidade, engano, paixões carnais, inveja, calúnias, orgulho e insensatez. Todas essas coisas desprezíveis vêm de dentro; são elas que os contaminam” Mc 7.1-23).
Quais são as lições que este texto nos ensina?
O texto ensina que a Escritura é superior à tradição. Os líderes questionaram Jesus porque seus discípulos comiam sem lavar as mãos e precisamos entender que a preocupação aqui não era a higiene, mas sim uma lei cerimonial de purificação. Portanto, é um ato religioso que está em causa e o mesmo é fundamentado no valor da tradição e não na Escritura.
O Mestre diante de tal fato, mostra aos líderes religiosos que a Escritura é superior à tradição e que é essencial viver segundo os ensinamentos das Escrituras e não fundamentado em tradições humanas.
A segunda lição está diretamente relacionada com a primeira, ou seja, é preciso ser fiel às Escrituras. Os líderes dos dias de Jesus exigiam fidelidade à tradição, queriam que os homens lhes obedecessem e deixassem de obedecer os ensinamentos das Escrituras, ao se autojustificarem, fundamentados no ensino da tradição. Sendo assim, ao exigir fidelidade à tradição, abandonavam as Escrituras.
O Mestre ensina que a fidelidade deve ser sempre às Escrituras, ou seja, é fundamental ser fiel a Deus e não aos conceitos religiosos e às tradições que os homens as desenvolvem.
A terceira lição que esse texto nos revela é que a condenação do homem é fruto do seu interior. Os líderes religiosos estavam preocupados com a aparência, com questões da tradição e com regras humanas, mas deixavam de ver o real problema. O Mestre declara que o maior inimigo que o ser humano enfrenta é ele mesmo. A maldade e a corrupção são intrínsecas. A Escritura afirma: “Por que, pois, se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados”. (Lm 3.39). Portanto, deixe de olhar para a vida do outro, mergulhe no profundo do seu ser e veja as suas próprias mazelas.
O Mestre declara que toda maldade e toda a impureza jamais serão limpas e purificadas baseadas na tradição e em ritos vazios. A purificação só é possível através da aceitação da graça de Deus e de uma vida em obediência à sua Palavra.
Esse texto nos ensina que não podemos ficar agarrados à tradição e sim, devemos ser obedientes às Escrituras. Portanto, é a Escritura e não a tradição que deve reger nossas vidas.