Em busca de si mesmo

A vida é breve e é uma pena ver que há pessoas que passam por ela sem sequer viver. Há gente que não vive, simplesmente sobrevive. São mortos-vivos ou será que são vivos mortos?
Na brevidade da vida, há outras pessoas que não desfrutam do que têm. Vivem uma insatisfação constante e vivem como se não fossem. Não se realizam com o que tem e desejam sair pelo mundo em busca da felicidade e na tentativa de encontrarem-se consigo mesmo.
Esta atitude não é nova. Sempre houve gente assim. Quero juntar uma história e uma canção para trabalhar este pequeno texto. A história é a do Pai amoroso (Lc 15.11-32). Não tem jeito, a parábola de Jesus, fala do amor do pai, apesar de manifestar a rebeldia do filho. Um filho que não está satisfeito com o que tem em casa. Ele deseja cair no mundo. Meter o pé na estrada. É isto que ele faz. Ele vai à vida. Sorrindo para não chorar. Vendo o nascer do sol, desfrutando de tudo o que a vida pode oferecer, mas ele não sabia que a vida tem surpresas e que nem tudo é prazer. Ela não se constitui apenas de contemplação e prazer. Há lutas e dificuldades. E foi através destas que o jovem caiu em si, reconheceu-se e viu que na companhia do pai era feliz e realizado e fez o caminho de volta.
A canção é de Candeia: “Preciso me encontrar”. A canção é um clássico da MPB, mas ela soa como um diálogo. É um pedido. O autor suplica para cair no mundo. A canção foi interpretada por Cartola e a letra diz o seguinte:
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Olho para esta letra, e imagino Candeia sendo o filho do Pai amoroso. Um filho que pede para cair no mundo. Sair pela vida, mas sair sem existência e sem vida, pois ele diz que “quer nascer, quer viver”. O que ele fazia antes?
Ele sai com o desejo do regresso. Na verdade, ele sai na busca de si mesmo, pois ele declara que só vai voltar quando se encontrar. Ele sai na expectativa de coisas boas, mas descobre que a vida não se faz só de poesia. Ela tem prosa também.
O facto é que há muita gente como Candeia e como o pródigo que pede ao pai para cair na vida. Suplica para viver, para desfrutar do prazer de viver, para poder se descobrir. Será que, para se descobrir é essencial sair de casa, abandonar os seus e entregar-se aos prazeres da vida?
A canção diz que o encontro consigo mesmo, proporcionará o regresso. A história do pai amoroso diz que o filho caindo em si, deseja ir para casa. As histórias demonstram que quem se descobre, reconhece que estar de volta para o aconchego de casa é o que gera a verdadeira felicidade.
Antes de partir pelo mundo, revoltado e achando que não tem vida, encontre-se consigo mesmo. Faça as pazes com seu ser e desfrute da paz e do lugar onde está e da companhia daqueles que estão à sua volta.