Esvazie-se
A nossa cultura ocidental tem a cruz como símbolo do cristianismo e para muita gente, ela simboliza a vida. Entretanto, percebemos que para alguns, ela é uma espécie de amuleto da sorte. Numa partida de futebol, é interessante observar o comportamento de determinados jogadores que ao entrarem em campo, têm o cuidado de fazer o sinal da cruz, como se isso fosse uma garantia de proteção. Contudo, nos dias de Jesus a cruz era símbolo de dor e maldição, mas apesar dessa triste simbologia, isso não impediu que o Senhor Jesus declarasse que quem quisesse acompanhá-lo deveria tomar a sua cruz e segui-lo. Marcos, narra esse episódio da seguinte maneira
“Em seguida, convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á. Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida? Ou que dará o homem em troca da sua vida? Porque, se nesta geração adúltera e pecadora alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os seus santos anjos. E dizia-lhes: Em verdade vos digo: dos que aqui se acham, alguns há que não experimentarão a morte, enquanto não virem chegar o Reino de Deus com poder”. (Mc 8.34-9.1). Quais são as lições que esse texto nos apresenta?
Ao analisar o texto bíblico, observamos que a primeira realidade que podemos perceber é que o chamado é para todos. O texto declara que o Senhor chamou para si a multidão e falou diretamente a todos os que ali se encontravam, deixando claro que o chamado para o discipulado é para todas as pessoas, mas elas devem estar cientes do custo da caminhada com Cristo.
O Senhor desafia as pessoas a seguirem-no, mas conscientiza-as do custo que envolve o discipulado. Portanto, e como escreveu Bonhoeffer, “Uma vez chamado, o ser humano de abandonar a existência que levava até então. Sua única tarefa passa a ser “existir”, no sentido estrito do termo. Tem de abrir mão de tudo o que viveu; o que é velho deverá ficar para trás”. Sendo assim, é essencial avaliar muito bem a situação. Note que Jesus chamou a multidão para junto de Si, mas depois disse que se alguém desejasse segui-lo, deveria tomar a sua cruz. Ou seja, Ele mostrou-lhes a realidade e o preço da caminhada ao seu lado.
O texto também ensina que é fundamental abandonar o egoísmo, ou seja, é o caminho do esvaziamento. Tomar a cruz é morrer para si mesmo, é deixar de querer que a sua vontade seja feita, para realizar a vontade do Mestre. Portanto, o caminho do discipulado é o caminho da auto-negação, da mortificação da vontade. Sendo assim, “O discípulo é aquele que segue Jesus no seu caminho do esvaziamento, entrando, assim, com Ele na sua nova vida. O evangelho inverte radicalmente os pressupostos da nossa sociedade em movimento ascendente. É um desafio estranho e perturbador”.
Uma terceira realidade que o texto apresenta é que quem decide seguir a Jesus aceita morrer para as suas próprias vontades. Sendo assim, entende que o caminho da felicidade se encontra não em ser o centro das atenções, mas compreende que a felicidade acontece no caminho da humildade. Portanto, o desafio é o de viver “uma vida em que a alegria e a cruz nunca estão separadas. É uma vida que não procura influência, poder, sucesso e popularidade, mas confia que Deus trabalha no segredo e, aí, faz com que cresça algo novo. É uma vida de mortificação, ou seja, de morrer para as velhas formas de existir, para que seja possível nascer um novo fruto”.
Por último, aquele que caminha com Cristo, partilhará da exaltação do Senhor. Implica dizer que, aquele que morre para si mesmo, recebe a vida abundante que Cristo tem para oferecer e vive uma vida gloriosa com Cristo. Portanto, aquele que abandona o egoísmo, que morre para si mesmo e assume o compromisso de caminhar com o Senhor, a fim de desfrutar da verdadeira vida.
O Mestre desafia as pessoas a seguirem-no, mas é preciso avaliar bem a situação, pois a caminhada com Cristo, implica morrer para os seus próprios desejos. Queres ser verdadeiramente um discípulo de Cristo?