Eu opto pelo presente

O ser humano é movido pela esperança. Entretanto, como se costuma dizer, quem espera desespera, e desespera porque almeja que aquilo que quer se concretize o quanto antes. Este desejo e querer é mordaz e consumidor. Na realidade, esta ânsia de querer, que pensamos é que nos projeta para o futuro e cria em nós essa falsa esperança e nos impede de viver o presente e desfrutar tudo o que temos para viver hoje.
É fato que as Escrituras afirmam que são felizes os que esperam no Senhor (Is 30.18). Eu espero em Deus e Deus espera manifestar misericórdia por mim. Assim, esta realidade é muito ulterior e complicada para ser explicada em meras palavras. A espera é algo real e geradora de esperança, mas a esperança cria ansiedade. É difícil, muito difícil esperar. Creio que foi justamente por isto que, Erri De Luca afirmou: “Só as mulheres, as mães, sabem o que é o verbo esperar. O género masculino não tem constância nem corpo para hospedar esperas”. Não gosto de esperar, mas a espera produz a esperança e apesar dela produzir um bocado de ansiedade tenho que aprender a esperar, mas esperar o que é correto e vale realmente a pena ser esperado e o que faz sentido alimentar a esperança.
O que alimenta a esperança é o amor. Quem ama tudo espera. Espera porque o amor é triunfante e ele tudo crê, tudo espera e tudo suporta (1 Co 13.7). Entretanto, é fundamental saber pelo que não esperar. É fundamental não alimentar falsas esperanças. A esperança projeta-nos para o futuro. Esta projeção é sempre com coisas boas. Esperamos sempre dias melhores, mas a realidade é que este futuro almejado em vida, pode nos trazer coisas desagradáveis. Nem sempre o que esperamos e desejamos irá se concretizar. É fundamental ter esperança pelo que faz sentido e é concretizável, mas também precisamos ter o dom de perder a esperança para que possamos optar pela vida que temos.
Hoje eu opto por viver o presente. Viver o que tenho, até porque o futuro é apenas um sonho e um desejo e se me deixar escravizar pelo sonho e desejo de dias melhores, não viverei tudo o que tenho para viver hoje.
Espero e alimentarei a esperança, mas não quero viver de falsas esperanças. Não quero o devaneio. Eu opto pela vida e desejo vivê-la com intensidade. Quero o presente e dele desfrutar cada momento como se fosse o último que tivesse para viver.
Quero viver o hoje com verdade e não meias verdades. Há tantas meias verdades que são ditas com medo de ferir o outro, só que não nos damos conta que as meias verdades nos destroem e nos iludem e fazem-nos crer que o outro é menos do que aquilo que realmente ele é.
Somos seres da esperança, mas precisamos eliminar as falsas esperanças. Devemos olhar para vida e saber o que é concretizável e o que não passa de desejo e ilusão. É essencial eliminar aquilo que nos impede de viver o presente.
Eu não sei esperar e a minha esperança na realidade não se fundamenta em dias melhores e num futuro radiante. Enquanto aqui estiver, sei que terei muitas lutas, passarei por muitas adversidades e terei muitas decepções e desilusões. Tenho consciência que pessoas que amo irão virar-me às costas e que serei surpreendido por pessoas que não imaginava estarem ao meu lado no momento mais duro e inesperado. A realidade é que este processo de formação e aperfeiçoamento vai ensinando-me a desprender-me do que realmente não faz sentido na minha vida.
Hoje, olho para mim e procuro saber definir onde e em que e quem tenho esperança. Quero ter o dom de perder a falsa esperança. Esta que gera ansiedade, que me faz ficar preso a um futuro que não será concretizável e que no fundo é gerador de patologias. Aqui estou, abrindo mão de sonhos não concretizáveis. Quero a realidade. Quero o presente e é lógico que viverei a esperança, não a falsa esperança mas a esperança do amor, o verdadeiro amor.
Hoje, opto pelo presente. Quero a vida aqui e agora, com todas as dores e incertezas, mas desejo-a com intensidade e espero e mantenho a esperança da vida se desabrochar e se manifestar naquilo que ela deve ser. Contudo, eu deixo a falsa esperança do futuro e opto por viver o hoje, por desfrutar o presente.