Eu vou morrer

O tema da morte foi durante muito tempo afastado dos olhos, tanto que Marie de Hennezel afirmou que: “Escondemos a morte como se ela fosse vergonhosa e suja. Vemos nela apenas horror, absurdo, sofrimento inútil e penoso, escândalo insuportável, conquanto ela seja o momento culminante da nossa vida, o seu coroamento, o que lhe confere sentido e valor”. Entretanto, vimos surgir uma pandemia e de repente, o tema se faz presente e constante em todos os meios de comunicação e ela passa a estar presente e constantes em nossos diálogos. Portanto, e como afirma o livro “Resistência e Submissão”, “Nos últimos anos, pensar na morte tornou-se cada vez mais familiar para nós”.
Gosto muito do que afirma Kübler-Ross: “Acredito que deveríamos adquiri o hábito de pensar ocasionalmente sobre a morte e o processo que ela conduz, ainda antes de a encontrarmos na nossa própria vida”, e essa realidade era o que fazia Jesus, algo que fica bem patente na narrativa do evangelho de Marcos que diz:
“Por esse tempo, subiam para Jerusalém, e Jesus ia à frente. Os discípulos estavam muito admirados, e o povo que os seguia tinha grande temor. Jesus chamou os Doze à parte e, mais uma vez, começou a descrever tudo que estava prestes a lhe acontecer. “Ouçam”, disse ele. “Estamos subindo para Jerusalém, onde o Filho do Homem será traído e entregue aos principais sacerdotes e aos mestres da lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios. Zombarão dele, cuspirão nele, o açoitarão e o matarão, mas depois de três dias ele ressuscitará” (Mc 10.32-34).
Quais são as lições que esse texto nos apresenta?
A primeira lição que o Senhor nos dá é a consciência de sua morte, mas ao fazê-lo, mostra que ela não pode nos tirar o foco e o sentido da existência. O Senhor caminhava para Jerusalém e sabia que caminhava para o fim, mas seguiu em segurança. É como declara Marie de Hennezel: “Aquele que pode dizer «eu vou morrer» pode ser também ator da sua partida”. O texto diz que o Mestre seguia adiante e chamou os discípulos e diz claramente a eles o que lhe esperava.
A morte é uma realidade e nesse sentido, o Mestre diz que não podemos fugir e devemos encará-la e vivê-la com sentido e dando sentido para que outros sejam transformados.
A segunda lição que o Senhor ensina é que é fundamental enfrentar o sofrimento inevitável. O Mestre afirma que sabe o que lhe acontecerá, tem consciência de que irá sofrer, mas isso não o afasta de sua missão e isso, nos ensina a seguir firmes em nossa caminhada mesmo que tenhamos que passar por sofrimento.
É bom olhar para vida do Mestre e ver que houve momentos em que tentaram contra sua vida e Ele, simplesmente saiu e, isso nos ensina que é fundamental evitar o sofrimento evitável, mas aquilo que é essencial, deve ser vivido de maneira coerente e dando sentido e significado ao mesmo.
Por último, o Senhor ensina que a morte não tem a última palavra. O Senhor chamou os seus discípulos, disse-lhes o que iria acontecer, mas garantiu-lhes que iria ressuscitar ao terceiro dia, declarando assim, que a morte não dita o ponto final da história.
Jesus seguiu para Jerusalém e enquanto seguia, preparou os seus discípulos. O Mestre viveu a vida de maneira intensa e com alegria e como afirma Henezzel, “a vida entrega-se a quem toma a peito. Não tenha medo de nada! Vida tudo o que lhe surja, pois tudo, tudo, é dádiva de Deus!”
Jesus assim viveu e, por isso, preparou os seus e disse-lhes: “Eu vou morrer!”