Igualdade

Vivemos numa sociedade desigual e, é comum, ouvirmos as pessoas dizerem que o mundo é dos mais espertos. Porém, quando alguém assume o nosso lugar, quando nos passam a perna, ficamos entristecidos, revoltados e protestamos em relação ao acontecido.
Neste tempo de pandemia, que estamos vivendo em isolamento social, somos confrontados com a triste notícia do aumento da violência familiar. Creio, que é porque as pessoas já não saibam conviver e viver em família. Elas simplesmente dividem a mesma habitação. Em alguns casos, partilham refeições conjuntas, mas não desfrutavam de tempo juntas, vivem intimidade. A proximidade e com o confinamento fez as pessoas se reencontrarem, e isto mostra que elas precisam conviver e viver juntas, se reconhecerem, mas o problema é que já não existe um projeto comum e o desejo de sobrepor o outro é marcante.
O nosso pior inimigo, somos nós próprios. Edith Eger quando fala sobre sua relação e o recomeçar com seu marido diz: “(…) não há “nós” sem haver primeiro um “eu”. Agora que me enfrentei a mim mesma mais profundamente, vejo que a solidão que sentia no nosso casamento não era um sinal de haver algo errado com a nossa relação; era, sim, o vazio que trago comigo, mesmo agora; o vazio que nenhum homem ou proeza alguma vez irá preencher. Não há nada que alguma vez me vá compensar pela perda dos meus pais e da minha infância. E mais ninguém é responsável pela minha liberdade, apenas eu.” Antes de culpar os outros é preciso olhar para dentro de si mesmo. Antes de atirar pedras nos outros, preciso perceber que tenho telhado de vidro.
Alguém, outro dia disse-me que falaram mal de mim. Procurei tranquiliza-lo declarando que para falar mal dos outros não precisamos motivos, basta apenas começar. Esta é uma atitude de autodefesa, uma maneira de esconder nossas fragilidades e mazelas. Jesus disse: “Porque vês tu o argueiro no olho do teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão; Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho do teu irmão.” (Mt 7.3-5). Há uma sobrevalorização do erro dos outros, mas uma cegueira em relação ao nosso. E a verdade é que, nestes dias de confinamento, no reencontro e na proximidade e o fato de estarmos muito tempo juntos, os defeitos ficam gritantes, as acusações são exacerbadas e em decorrência de tudo isto, temos como resultado a violência.
A pandemia veio mostrar que todos somos iguais e que somos frágeis. Veio para nos dar oportunidade de rever nossas prioridades e o confinamento, deu-nos a oportunidade de termos tempo para investirmos em nossa família, mas este tempo em alguns casos, tem sido maléfico pois observamos crescer o número de agressões. Contudo, devemos lembrar o dito popular que “violência gera violência”, mas podemos olhar por outro prisma, e nos fazer a seguinte questão: Como é que desejo ser tratado pelo outro?
A melhor resposta para esta pergunta, encontro na declaração de Jesus que diz: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os profetas.” (Mt 7.12). Simples assim, faça ao outro o que deseja que ela faça consigo. Não querem ser mais e nem receber mais dele, mas apenas a mesma medida e a mesma maneira, que haja igualdade e esta em amor.