Lamento

O compositor Emerson Maia escreveu a toada, “Lamento de raça”, e nesta bela canção, ele retrata as queimadas, o desmatamento que sofre a floresta amazônica, mas hoje, além do desmatamento, vivenciamos a tragédia da mortandade das pessoas e elas morrem por falta de ar, asfixiadas, sem oxigênio.
O povo chora, e também está desesperado por falta de leitos nos hospitais, vendo seus familiares morrendo de maneira atroz por falta de oxigênio. O povo amazônida chora, o índio chorou e chora pelo descaso que tem recebido. Até quando, será assim?
As famílias estão sofrendo e estão enfermas junto com os seus doentes que sofrem e padecem asfixiando-se. Há um estado sofrendo, mas muito mais que um estado há um país inteiro de luto. E as pessoas estão sendo privadas de fazer sua despedida. O índio chora, a nação brasileira chora e chora a morte de um filho seu e não se pode ficar indiferente à dor e ao sofrimento dos milhares de brasileiros que estão perdendo seus familiares.
É preciso chorar pela destruição de um povo. Emerson Maia, lamenta a destruição da natureza e a Escritura diz: “Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora.” (Rm 8.22), esperando e desejando ser restaurada e esse sofrimento vivido agora não se compara com o maravilhoso dia que está por vir.
É preciso sensibilidade, é preciso solidariedade. É essencial olhar para o ser humano e amá-lo e amar é tomar uma atitude positiva em relação ao outro. É essencial que nos voltemos para uma ética social, fundamentada nos princípios da tradição judaico-cristã. E como diz o rabino e filósofo Marc-Alain Ouaknin: “A ética da Torá não procura impor ao homem um ideal de renúncia à vida individual e colectiva. Pelo contrário, é uma ética eminentemente social. Reaviva, em cada um, as responsabilidades que lhe incumbem pelo facto de ser membro da sociedade humana. Na base dessa ética colectiva encontra-se o admirável mandamento: “«Amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Levítico 19,18), mandamento sem limites, que convida o homem a amar não apenas o seu igual, mas o estrangeiro, o escravo, o inimigo. A noção de respeito de dignidade da pessoa humana está incluída neste apelo e torna necessárias instruções sociais que assegurem a justiça”.
O lamento do meu povo, da minha gente lá do Amazonas não existiria, se tão-somente, houvesse a prática de uma ética coletiva que olha para o outro como seu igual e que o ama por ser ele quem é. O meu povo lamenta e eu lamento com ele e ergo a minha voz no meu lamento e digo: “Atende, SENHOR, a minha oração, dá ouvidos às minhas súplicas. Responde-me, segundo a tua fidelidade, segundo a tua justiça. Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente.” (Sl 143.1-2).