Não deixe os elogios e as flores para amanhã

No ano de 1994, os amantes da F1 viveram um fim-de-semana trágico, de vários acidentes e mortes que ninguém imaginava ou esperava que fossem acontecer. Mas esse fim-de-semana foi o mais trágico do automobilismo e do esporte. A sexta-feira, ficou marcada pelo acidente que deixou o piloto brasileiro Rubens Barrichello seriamente ferido. No dia seguinte, houve o acidente fatal do piloto austríaco Roland Ratzenberger e no domingo, apesar de muitos pilotos questionarem, a Grande Prêmio, teve continuidade e, logo após a largada, um acidente envolvendo o piloto português Pedro Lamy e o finlandês J. J. Lehto (Jyrki Juhani Järvilehto) fez entrar o safety car. Após o reinício da corrida, na sexta volta, foi a vez do piloto brasileiro Ayrton Senna perder o controle do carro em um acidente e, não resistindo aos ferimentos morre nesse mesmo dia. A morte chega sem avisar quando ninguém espera.
É essencial vivermos cada dia como se fosse o nosso último. Foi no dia 25 de Janeiro de 2004, que Portugal e todos os amantes de futebol ficaram chocados, com a morte em campo do jogador Miklos Féher. A maneira como aconteceu nos deixou completamente impressionados, pois jamais esperamos ver um atleta morrer em pleno campo. Nunca imaginamos que a morte vai chegar de maneira traiçoeira e rápida. Nós sempre projetamos essa realidade para o futuro e um futuro bem distante. Como cantou Gonzaguinha: “Ninguém quer a morte, só saúde e sorte.” Nunca refletimos no que diz a Escritura: “Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer.” (Ec 3.1-2a).
Infelizmente, o calendário de Deus é diferente do nosso e a verdade é que, não sabemos quando a nossa jornada aqui chega ao fim. Féher partiu muito cedo, e ficamos imaginando como seria sua carreira. Sonhos foram desfeitos, planos deixaram de existir e sua morte serviu para mostrar quão frágeis somos. Ela mostrou-nos a brevidade da vida e que devemos viver como se fosse o último que temos, mas também com a sensação de que é o primeiro dia do resto nas nossas vidas, como canta Sérgio Godinho.
A morte nos faz refletir sobre a vida. É diante da perda do outro que paramos e refletimos sobre o que temos feito de nossas vidas e precisamos compreender que ela é fugaz, como um vapor que aparece e logo desaparece (Tg 4.14). Portanto, é nessa fugacidade que precisamos fazer as homenagens. Meu velho pai dia que quem desejasse homenageá-lo que o fizesse em vida e aí lembrei o que alguém disse e não sei precisar a fonte, mas foi dito o seguinte: “É melhor dar flores a um vivo do que reservá-las para o seu sepultamento”. Sendo assim, vou procurar elogiar e oferecer as flores para os vivos, pois assim, poderão se encantar com a beleza delas.
Recordando esses momentos trágicos do esporte, parei para refletir sobre a minha vida, sobre aqueles que tanto amei e que não estão mais aqui. Ficou tanto por dizer, abraços que não foram dados, homenagens que não foram feitas, tudo por imaginar que tinha muito tempo e que ninguém partiria tão cedo.
Estou perto dos 55 anos e a vida já não é vista dentro da mesma perspectiva. Deixei de valorizar muitas coisas e já não estou preocupado em fazer parte do grupo, estar em evidência e a muito que o ter deixou de ser prioridade, pois o que conta é o ser. A vida me ensinou que é preciso ser e tenho consciência que falho na valorização daqueles que são para mim. Há momentos que minha declaração de amor e gratidão ao Senhor fica turva porque não consigo perceber todas as bênçãos que tenho recebido d’Ele. Contudo, estou buscando viver cada dia de modo único, buscando errar menos e manifestando mais gratidão por tudo, mas tudo mesmo e permitindo que a graça de Deus se manifeste através de mim.
A vida é fugaz e por isso, precisamos aprender a viver felizes, com um sorriso no rosto e quando estivermos chegando ao nosso fim, tenhamos a capacidade de dizer como disse o apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé” (2 Tm 4.7). Espero chegar ao fim com a consciência do dever cumprido e o que virá depois é incomparavelmente melhor.
Estou perto dos 55 anos, não sei quantos me restam. Não sei quando será minha última corrida ou meu último jogo. Não faço a mínima ideia de quando serei chamado à presença do Senhor, mas quando o for, que siga tranquilo na certeza de que a Sua graça me foi e me é suficiente e desfrutarei da verdadeira vida na companhia do meu Mestre e Salvador.
Quero desfrutar da vida hoje. Quero ser bênção hoje, pois o amanhã pode não chegar. Sendo assim, aproveito hoje para dizer: Eu te amo!