O Filho de Deus

No auge do império romano, a crucificação, forma de pena de morte da época, era o pior ato de tortura que podia existir. O teólogo britânico John Sttot, em seu livro A cruz de Cristo, assim descreve os momentos que antecediam a tão terrível sentença de morte: “o prisioneiro era despido e humilhado publicamente. A seguir era forçado a deitar-se de costas no chão, suas mãos eram pregadas ou atadas ao braço horizontal da cruz (o patibulum), e seus pés ao poste vertical. Então a cruz era erguida e jogada num buraco escavado para ele no chão. Em geral providenciava-se um pino ou assento rudimentar a fim de receber um pouco do peso do corpo da vítima para que não se rasgasse e caísse. Aí ficava o crucificado pendurado, exposto à intensa dor física, ao ridículo do povo, ao calor do dia e ao frio da noite. A tortura durava vários dias”. Portanto, a cena da crucificação de Jesus, mostra-nos a mais cruel das mortes, mas também a maior expressão de amor que existe. A Páscoa, portanto, nos fala da vítima que pagou o preço, ao dar a sua vida em favor de nossas próprias vidas. O evangelho de Marcos narra a cena assim:
“E obrigaram a Simão Cireneu, que passava, vindo do campo, pai de Alexandre e de Rufo, a carregar-lhe a cruz. E levaram Jesus para o Gólgota, que quer dizer Lugar da Caveira. Deram-lhe a beber vinho com mirra; ele, porém, não tomou. Então, o crucificaram e repartiram entre si as vestes dele, lançando-lhes sorte, para ver o que levaria cada um. Era a hora terceira quando o crucificaram. E, por cima, estava, em epígrafe, a sua acusação: O Rei dos Judeus. Com ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita, e outro à sua esquerda. [E cumpriu-se a Escritura que diz: Com malfeitores foi contado.] Os que iam passando, blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: Ah! Tu que destróis o santuário e, em três dias, o reedificas! Salva-te a ti mesmo, descendo da cruz! De igual modo, os principais sacerdotes com os escribas, escarnecendo, entre si diziam: Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se; desça agora da cruz o Cristo, o rei de Israel, para que vejamos e creiamos. Também os que com ele foram crucificados o insultavam. Chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até a hora nona. À hora nona, clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Vede, chama por Elias! E um deles correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta de um caniço, deu-lhe de beber, dizendo: Deixai, vejamos se Elias vem tirá-lo! Mas Jesus, dando um grande brado, expirou. E o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. O centurião que estava em frente dele, vendo que assim expirara, disse: Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus. Estavam também ali algumas mulheres, observando de longe; entre elas, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé; as quais, quando Jesus estava na Galileia, o acompanhavam e serviam; e, além destas, muitas outras que haviam subido com ele para Jerusalém” (Mc 15.21-41).
Quando reflito sobre a cena da crucificação, o que essa cena suscita em mim?
A primeira lição que essa cena nos declara é a veracidade é o cumprimento das Escrituras. Portanto, quando refletimos sobre a cena da crucificação, percebemos a misericórdia de Deus e o caminho para a salvação, além do cumprimento de toda a Escritura. Nesse sentido, como afirma Thomáš Halík “Jesus a Palavra de Deus que aceitou toda a humanidade, a sua humanidade abraça não apenas a grandeza e a perfeição do homem como imagem intacta de Deus, mas também o polo oposto, o lado escuro e dolorosamente marcado pelo destino humano, a miséria e a pequenez perante a qual gostamos de fechar os olhos, os ouvidos e o coração”. Logo, ao meditarmos sobre a crucificação podemos asseverar a veracidade das Escrituras.
A segunda lição que percebemos é que o indefeso é o Salvador da humanidade. Portanto, compreendemos que o Senhor Jesus, estando crucificado, mostra-nos que “Deus abdica de si mesmo, para não ter de perder a humanidade; é a consequência do anseio de Deus de anular, sem violência o poder da inimizade dos homens, e de acolher os seres humanos no seu próprio ser. […] Os braços do Crucificado estão abertos, e eles próprios são um sinal do espaço no ser de Deus – e o convite aos inimigos para entrarem”. Ou seja, a cena da crucificação, onde Jesus aparece completamente indefeso, demonstra que é através desse ato que a salvação chega e se manifesta a humanidade.
Por último, esse episódio manifesta-nos que realmente Jesus é o Filho de Deus. O Senhor Jesus se entregou, doou-se em amor e ali, naquela cruz, bradou aos céus num cântico de louvor ao Pai. O centurião que estava presente, vivenciando aquele momento e vendo toda a atitude e a maneira como o Senhor Jesus expirou, declarou: “Verdadeiramente este homem era filho de Deus”.
Diante da cena da crucificação observamos a maior declaração de amor e vemos também como o próprio Deus em Cristo pagou o preço da nossa culpa. Naquela cruz, a misericórdia e a justiça se expressam e o Deus fica satisfeito, mas a pergunta é: Reconheço Jesus como o Filho de Deus e Senhor e Salvador da minha vida?