Pai nosso

No evangelho de Mateus, encontramos Jesus proclamando o seu sermão do monte e, no mesmo, há um momento em que ele ensina os seus discípulos a orarem. O texto diz: “Portanto, orem da seguinte forma: Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome. Venha o teu reino. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos hoje o pão para este dia, e perdoa nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém”. (Mt 6:9-13). Esta é a oração modelo de Jesus, que é uma oração conhecida de todos. Ela é profunda e, é constituída de sete petições. Três são dirigidas a Deus e quatro são relacionadas a nós. É uma oração descendente que vem de Deus até nós, mostrando que o Evangelho é Deus buscando o homem.
O que Jesus nos ensina com essa oração?
Jesus nos ensina a ter uma relação de proximidade e intimidade com Deus. Poder aproximar-se de Deus e tratá-lo por Pai não era algo normal. Os pagãos dirigiam-se aos deuses procurando aplacar a ira deles. Os israelitas viam o povo, a nação como sendo filhos de Deus (Dt 14, 32.6; Is 64.8; Os 11.1). É uma relação de familiaridade e não só, é uma relação familiar. Deus é Pai e e somos filhos por causa da realidade pascal. “Mergulhados na Páscoa de Jesus, somos chamados a viver do seu Espírito, configurados à sua realidade. Não permanecemos servos, nem escravos, mas tornamo-nos verdadeiramente filhos de Deus e agimos no mundo como tal”.
Jesus apresenta-nos Deus como Pai. Um Pai próximo que ouve o nosso clamor. Jesus ensina que devemos iniciar a oração pública dizendo «Pai nosso». “Quando Jesus diz «Pai-nosso», «Abbá nosso», Jesus quer dizer que Deus é o Deus de todas as horas, Aquele em quem se pode confiar, como uma criança confia no pai sem qualquer tipo de reservas, sem qualquer escondimento, de uma maneira absoluta e total”.
Jesus nos ensina que somos uma família. Somos filhos de Deus e por isso, somos irmãos e irmãs. Jesus afirma que não estamos sós e muito menos abandonados e quando chamamos o Senhor de Pai nosso, o fazemos porque fomos ensinados por Jesus, que nos chama de irmãos. É o Senhor Jesus quem nos convida para fazer parte dessa família e nos anuncia o nome do Pai (Hb 2.11-12).
O Senhor Jesus ao ensinar que devemos chamar Deus de Pai nosso, está afirmando que somos a família dos remidos. Somos filhos de Deus e se somos filhos, somos herdeiros, somos co-herdeiros com Cristo (Rm 8.17). Quando temos consciência de que somos família, há sentido de pertença. Existe a realidade de uma ligação que nada nem ninguém pode destruir.
Ser filho e manifestar a imagem do Pai é ser alguém que ama e ama como Deus amou. Amar como Deus amou é perdoar os imperdoáveis. É estar apto a conceder uma nova oportunidade. É ser alguém que se entrega e corre riscos pelos outros.
Jesus nos ensina a realidade da comunhão. O Senhor Jesus mostra-nos nessa oração algo fantástico. Ele diz que não há espaço para o egoísmo na família espiritual. Não há espaço para o «eu» e nem para o «meu». Ele é o nosso Pai que supre as nossas necessidades. O que vemos aqui é igualdade e comunhão. Temos tudo em comum e somos todos filhos. Não há espaço para individualismo e nem para estrelismos. Jesus nos ensina que ao dizermos «Pai nosso», estamos assumindo que a nossa vida é em comum e que vivemos à volta do Pai e dependemos dEle.
Quando vivemos esta realidade e excluímos o «meu» e o «eu», não pensamos mais no ter e no querer pessoal, mas sim no coletivo que supre a necessidade familiar e olhamos para o que nos chega as mãos como oportunidade de ser algo que vai estar à disposição de todos, pois tudo o que temos é nosso.
Pai nosso é muito mais que uma simples declaração. Quando dizemos isto estamos afirmando que tudo nos é comum, que fazemos parte de uma família e que todos somos irmãos.