Pescador de homens
Um dos textos bíblicos que mais aprecio o que trata da pesca extraordinária realizada por Pedro e seus amigos, e que, após a pescaria, Pedro pede para Jesus afastar-se dele, pois era pecador. No entanto, Jesus dirige-se a ele diz: “Não temas; doravante serás pescador de homens.” (Lc 5.10). Diante de tal afirmativa, Pedro deixou tudo e seguiu Jesus, tornando-se um pescador de homens. Ele investiu a sua vida em pessoas, aprofundou relacionamentos e aprendeu a romper com algumas tradições e venceu seus preconceitos, valorizando as pessoas.
Nesse momento, o foco máximo das notícias está voltado para o covid-19, mas ainda recordo de ver nos canais televisivos, notícias de seres humanos sendo resgatados do mar. Pessoas sendo recolhidas de pequenas embarcações ou não, sendo pescadas e o que elas desejavam eram ter uma vida melhor e por isso, se submetiam a condições horríveis para darem à costa de países europeus. Assistindo aquelas cenas, fui projetado para as palavras de Jesus: “serás pescador de homens” e olhando para aquele triste cenário mais uma vez percebi que ser pescador de homens é resgatá-los, salvá-los da perdição da morte, tanto física como espiritual. Compreendi que ser um pescador de homens é disponibilizar o seu tempo, a vida em prol do seu semelhante.
Num mundo desigual, necessitamos muito de pescadores. Precisamos de pessoas que ousem correr riscos, que invistam suas vidas para beneficiar e salvar o seu semelhante. Carecemos de gente que ouse deixar coisas, tesouros materiais para trás e ousem investir no melhor tesouro que são vidas humanas, até porque, o ser humano é uma fonte inesgotável de riqueza.
Para ser pescador de homens é fundamental ter coragem, pois o pescador vai deslocar-se, irá deixar de ser o centro do mundo. Não pode ter uma visão egoísta, tem que sair de si mesmo para poder ir ao encontro das pessoas que precisam ser resgatadas no mar da tristeza e solidão. Pessoas desesperadas, que anseiam por um ombro amigo para poderem chorar.
Nosso mundo está embrutecido e é por isso que as pessoas escondem suas emoções e sentimentos. Sofrem caladas, choram para dentro e por isso, vão afogando-se nas suas mágoas. As pessoas sofrem caladas e quietas, mesmo ansiando abrir o coração, mas o problema é que elas não têm quem pare para lhes ouvir. É fundamental que nos disponibilizemos e sejamos esse ombro amigo que irá servir de apoio no momento da aflição. Gosto muito do que disse Darci Dusilek: “As pessoas desejam mais contatos, mais intimidade umas com as outras. Desejam sentir-se mais pessoas e menos número na multidão. Querem se tocar, se abraçar, querem ser, simplesmente, gente ou povo de Deus que se reúne na intimidade como família.” As pessoas desejam viver sem máscaras, mas para que isso aconteça é preciso que haja alguém que as apoie e aceite como elas verdadeiramente são.
Refletindo nas palavras de Jesus, percebi que se eu desejo ser um pescador de homens, necessito estar disposto a trabalhar e conviver com todo ser humano, independente de sua classe social, seu credo e nacionalidade. Simplesmente preciso ir ao encontro dele e entregar-me, disponibilizar-me para ajudá-lo no que for necessário. É entender o outro e aqui cabe bem a letra da música de Sérgio Pimenta:
“Só quem sofreu
Pode avaliar quem sofreu
Pode se identificar
Pode ter o mesmo sentir
Só quem sofreu
Tem palavras de puro mel
Que transmitem todo o calor
Para quem precisa de amor”Ser pescador é utilizar suas dores, o seu sofrimento como realidade humanizadora, fazendo com que se perceba e entenda o outro. É nesse processo, que a pessoa pode identificar-se com o sofredor. É ser um pequeno Cristo, pois como continua a bela canção de Sérgio Pimenta:
“E o Cristo encarnou
Sofrendo como um homem a dor
Sabendo o que é padecer
Na mente e no corpo
E ele morreu
E até a própria morte venceu
Mostrando amor capaz de atender/entender
A todo homem”Esse é o exemplo de Jesus, o Cristo para todos nós. Ele se identificou conosco, sofreu a nossa dor, mostrou que entendeu os nossos dilemas e frustrações e nós que nos afirmamos cristãos, devemos seguir o seu exemplo. Necessitamos nos tornar pescadores de homens, mas para que isso aconteça, temos que nos identificar e encarnar as dores e experiências da vida sem fugir e muito menos dissimular. É essencial viver e assumir o seu próprio sofrimento, é amar e porque ama entrega-se ao próximo para que ele se sinta valorizado pelo que é: um ser humano criado à imagem e semelhança de Deus.