Quase lá!

Se há uma expressão que bem define os seres humanos é a de que somos seres relacionais e, sendo assim, é impossível vivermos sem o encontro com o outro, seja numa dimensão de sobrevivência ou numa afetiva como uma expressão de amor. Ademais, diferentemente dos demais seres vivos, partilhamos também do que convencionamos chamar de experiência espiritual. No entanto, a maior expressão de espiritualidade não é a observância dos ritos, mas sim uma atitude correta em relação ao Criador, a si mesmo como também ao próximo. Assim nos orienta a Palavra de Deus, quando lemos o livro de Marcos, ao relatar o encontro que o Senhor Jesus teve com um escriba. O evangelho de Marcos narra assim:
“Um dos mestres da lei estava ali ouvindo a discussão. Ao perceber que Jesus tinha respondido bem, perguntou: “De todos os mandamentos, qual é o mais importante?”. Jesus respondeu: “O mandamento mais importante é este: ‘Ouça, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de toda a sua mente e de todas as suas forças’. O segundo é igualmente importante: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Nenhum outro mandamento é maior que esses”. O mestre da lei respondeu: “Muito bem, mestre. O senhor falou a verdade ao dizer que há só um Deus, e nenhum outro. E sei que é importante amá-lo de todo o meu coração, de todo o meu entendimento e de todas as minhas forças, e amar o meu próximo como a mim mesmo. É mais importante que oferecer todos os holocaustos e sacrifícios exigidos pela lei”. Ao perceber quanto o homem compreendia, Jesus disse: “Você não está longe do reino de Deus”. Depois disso, ninguém se atreveu a lhe fazer mais perguntas” (Mc 12.28-34).
Esse texto nos mostra que há pessoas muito sinceras, próximas de Deus, conhecedoras da verdade, mas que ainda não fazem parte do reino. Portanto, quais as lições que aprendemos com esse texto?
A primeira lição que esse texto nos apresenta é que há pessoas que buscam o Senhor Jesus de forma sincera. O texto afirma que um escriba buscou ao Senhor Jesus e perguntou qual o primeiro dos mandamentos? O Senhor estava no templo e aquele era o espaço do aprendizado, onde a lei era exposta e os leigos deveriam inquerir sobre ela. Esse escriba tinha o hábito de debater sobre a importância dos 613 mandamentos e a sua pergunta manifestou um desejo sincero de aprender com o Senhor Jesus.
É fundamental buscar ao Senhor Jesus com sinceridade e um desejo autêntico de aprender com Ele.
A segunda lição que o texto nos ensina é que o amor é a fonte da vida. No relato de Marcos, a resposta do Senhor Jesus foi baseada no SHEMÁ, que era recitado a cada manhã e tarde como um ato de recordar o que o Senhor havia falado e deveria ser ouvido. Portanto, Deus tem que ser amado em toda a totalidade do ser humano e quem ama a Deus assim, aprende a amar ao próximo como a si mesmo. Só quem ama a Deus aprenderá realmente a amar a si mesmo e a expressar amor autêntico ao próximo. Fica evidente que não são os sacrifícios e os ritos vazios que nos aproximam de Deus, mas sim a vida relacional em amor.
A terceira lição que o texto nos ensina diz que é preciso mais do que conhecimento sincero da Palavra de Deus. O escriba tinha o verdadeiro conhecimento, foi sincero com o Senhor Jesus, dessa forma podemos dizer que ele expressou uma religiosidade saudável, no entanto, a narrativa de Marcos, deixa claro que não bastava ser religioso, ter o conhecimento e interpretação correta da Lei para se fazer parte do reino de Deus.
A última lição surge por inferência, ou seja, por dedução, que é preciso optar por fazer parte do reino. O Senhor Jesus declarou para aquele escriba que ele estava muito próximo do reino, mas ele teria que optar por entrar para o reino. Nesse sentido, a porta do reino estava aberta, mas ele teria que aceitar o convite do Senhor. Sendo assim, percebemos que aquele escriba estava quase lá.
Sintetizando, um homem sincero se aproximou de Jesus e mostrou que tinha o conhecimento da verdade, estava perto do reino, como muita gente em nossos dias que está quase lá, mas será que irão optar por entrar e fazer parte do reino?