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Que haja respeito


O Brasil como Portugal, oficialmente é um país laico. Tal laicidade, importa afirmar, garante a liberdade religiosa a todos, inclusive a não confissão de qualquer credo, sem que isso traga quaisquer danos à pessoa. Ou seja, cada cidadão é livre para professar a fé que desejar e escolher a religião que quiser, sem que, para isso, haja interferência do Estado. Nesse sentido, o Estado tem que ser o garantidor de que todos possam professar a sua fé livremente. Sendo assim, a liberdade religiosa é a garantia do respeito e da convivência harmoniosa entre os cidadãos de um determinado país. No entanto, ao contrário do que está estabelecido na Constituição brasileira, durante um grande evento evangélico ocorrido em São Paulo, um dos líderes evangélicos afrontou a laicidade do país ao afirmar que “o Brasil será o maior país macumbeiro do mundo ou o país mais evangélico do mundo”. Num país plural, onde o proselitismo (trabalho de convencer ou converter pessoas) a maneira de convencimento não pode ou deve se dar pela agressão, imposição ou ofensa às demais crenças. Portanto, essa fala gerou polêmica, mas qual deve ser a atitude do cristão em relação às outras confissões de fé? A resposta encontra-se numa experiência vivida pelo apóstolo Paulo e que é narrada por Lucas no livro de Atos:


“Os que acompanharam Paulo o levaram até Atenas e, depois, voltaram a Bereia com instruções para Silas e Timóteo irem ao encontro dele o mais depressa possível. Enquanto Paulo esperava por eles em Atenas, ficou muito indignado ao ver ídolos por toda a cidade. Por isso, ia à sinagoga debater com os judeus e com os gentios tementes a Deus e falava diariamente na praça pública a todos que ali estavam. Paulo também debateu com alguns dos filósofos epicureus e estoicos. Quando lhes falou de Jesus e da ressurreição, eles perguntaram: O que esse tagarela está querendo dizer? Outros disseram: Parece estar falando de deuses estrangeiros. Então levaram Paulo ao conselho da cidade e disseram: Pode nos dizer que novo ensino é esse? Você diz coisas um tanto estranhas, e queremos saber o que significam. (Convém explicar que os atenienses, bem como os estrangeiros que viviam em Atenas, pareciam não fazer outra coisa senão discutir as últimas novidades). Então Paulo se levantou diante do conselho e assim se dirigiu a seus membros: Homens de Atenas, vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos, pois, enquanto andava pela cidade, reparei em seus diversos altares. Um deles trazia a seguinte inscrição: Ao Deus Desconhecido. Esse Deus que vocês adoram sem conhecer é exatamente aquele de que lhes falo. Ele é o Deus que fez o mundo e tudo que nele há. Uma vez que é Senhor dos céus e da terra, não habita em templos feitos por homens e não é servido por mãos humanas, pois não necessita de coisa alguma. Ele mesmo dá vida e fôlego a tudo, e supre cada necessidade. De um só homem ele criou todas as nações da terra, tendo decidido de antemão onde se estabeleceriam e por quanto tempo. Seu propósito era que as nações buscassem a Deus e, tateando, talvez viessem a encontrá-lo, embora ele não esteja longe de nenhum de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos. Como disseram alguns de seus próprios poetas: ‘Somos descendência dele. E, por ser isso verdade, não devemos imaginar Deus como um ídolo de ouro, prata ou pedra, projetado por artesãos. No passado, Deus não levou em conta a ignorância das pessoas acerca dessas coisas, mas agora ele ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois ele estabeleceu um dia para julgar o mundo com justiça, por meio do homem que ele designou, e mostrou a todos quem é esse homem ao ressuscitá-lo dos mortos. Quando ouviram Paulo falar da ressurreição dos mortos, alguns riram com desprezo. Outros, porém, disseram: Queremos ouvir mais sobre isso em outra ocasião. Então Paulo se retirou do conselho, mas alguns se juntaram a ele e creram. Entre eles estavam Dionísio, membro do conselho, uma mulher chamada Dâmaris, e alguns outros (At 17.15-34). 

O que aprendemos com esse texto?


O texto ensina que é preciso aprender a criar pontes. No texto Bíblico, o apóstolo Paulo ficou indignado com o que viu e foi debater com os judeus e gentios tementes a Deus, na sinagoga. Ou seja, primeiro, procurou os seus iguais e depois foi para a praça ali expor ali o que ele cria. Por isso, Paulo foi levado ao areópago, tendo como primeira atitude a de reconhecer o quão religiosos aquelas pessoas eram. Ele não as atacou, não atacou seus deuses, mas elogiou o fato de serem religiosos, ou seja, criou uma ponte que proporcionou a comunicação entre ele e os moradores locais. Portanto, nota-se que é fundamental respeitar o outro e criar pontes


O texto também ensina que é preciso partilhar a sua fé sem agredir o outro. Esse texto é maravilhoso, pois o apóstolo Paulo se utiliza dos poetas gregos, fala sobre diversos temas e aproveita para apresentar o evangelho de forma contextualizada, sem atacar e agredir quem quer que fosse. Vale recordar que ele estava indignado com a idolatria, mas isso não o fez ficar indignado com as pessoas. Ao contrário, Sendo assim, ele expôs a sua fé, apresentou o evangelho sem atacar, sem atacar a crença daquelas pessoas.


Por último, o texto ensina que é preciso saber calar-se. Quando os ouvintes declararam que não queriam mais ouvir, Paulo silenciou-se e saiu de cena e não ficou apelando, insistindo. O apóstolo simplesmente calou-se e retirou-se. Portanto, ele respeitou o direito das pessoas.


Não sei qual será o futuro do Brasil nos próximos anos, mas espero que continue sendo um país laico, onde as pessoas possam professar a sua fé livremente, independente de se ter uma maioria religiosa predominante. Portanto, o mais importante é que eu nunca me deixe levar pela indignação e que eu possa sempre manter o respeito para com o outro. Sendo assim, independentemente da religião predominante no Brasil ou em Portugal, ou em qualquer parte do mundo, que prevaleça sempre, em nossas relações pessoais, o pleno respeito ao outro, às suas crenças, à sua fé.

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