Religiosidade vazia

Certa vez, escutei a história vivida por um saudoso amigo que, ao pegar um táxi, viu uma moeda caída e estendeu o braço para apanhá-la. Nesse preciso momento, o taxista lhe chamou atenção e disse-lhe para deixar a moeda onde estava, ao afirmar: Sabe como é, precisamos ter fé!
É triste ver uma pessoa depositar a sua fé em uma moeda, pois ao fazê-lo está determinando que o dinheiro é o seu deus e assim, despreza o verdadeiro Deus. Portanto, podemos ver pessoas profundamente religiosas, que até manifestam todos os aspectos de sua religiosidade, mas são infrutíferas e vazias. Essa realidade é narrada no evangelho de Marcos quando o Senhor Jesus regressa à Jerusalém e ao templo, como podemos ver no texto que segue:
“Na manhã seguinte, quando saíam de Betânia, Jesus teve fome. Viu que, a certa distância, havia uma figueira cheia de folhas e foi ver se encontraria figos. No entanto, só havia folhas, pois ainda não era tempo de dar frutos. Então Jesus disse à árvore: “Nunca mais comam de seu fruto!”. E os discípulos ouviram o que ele disse. Quando voltaram a Jerusalém, Jesus entrou no templo e começou a expulsar os que compravam e vendiam animais para os sacrifícios. Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas, impediu todos de usarem o templo como mercado e os ensinava, dizendo: “As Escrituras declaram: ‘Meu templo será chamado casa de oração para todas as nações’, mas vocês o transformaram num esconderijo de ladrões!”. Quando os principais sacerdotes e mestres da lei souberam o que Jesus tinha feito, começaram a tramar um modo de matá-lo. Contudo, tinham medo dele, pois o povo estava muito admirado com seu ensino. Ao entardecer, Jesus e seus discípulos saíram da cidade. Na manhã seguinte, quando os discípulos passaram pela figueira que Jesus tinha amaldiçoado, notaram que ela estava seca desde a raiz. Pedro se lembrou do que Jesus tinha dito à árvore e exclamou: “Veja, Rabi! A figueira que o senhor amaldiçoou secou!”. Então Jesus disse aos discípulos: “Tenham fé em Deus. Eu lhes digo a verdade: vocês poderão dizer a este monte: ‘Levante-se e atire-se no mar’, e isso acontecerá. É preciso, no entanto, crer que acontecerá, e não ter nenhuma dúvida em seu coração. Digo-lhes que, se crerem que já receberam, qualquer coisa que pedirem em oração lhes será concedido. Quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no, para que seu Pai no céu também perdoe seus pecados. Mas, se vocês se recusarem a perdoar, seu Pai no céu não perdoará seus pecados” (Mc 11.12-26).
O que podemos aprender com esse texto narrado por Marcos?
A primeira lição é que há pessoas que aparentam ser muito religiosas, mas são completamente vazias. O Senhor Jesus dirigiu-se ao templo e viu uma figueira florida, mas sem fruto e por isso ele a amaldiçoou e a mesma secou-se. Portanto, o Senhor apresenta-se agora como aquele que anuncia o juízo e deixa claro que é possível existir pessoas que aparentam ser muito religiosas, cheias de fé, mas são vazias e sem frutos e, é por esse motivo que sofrerão o juízo do Senhor.
A segunda lição é que há pessoas que preferem comercializar a fé do que adorar a Deus. O Senhor Jesus censura o que está acontecendo no templo e diz aos líderes religiosos que eles transformaram o templo em um lugar de comércio. Sendo assim, o Senhor condena a comercialização da fé e deixa claro que Deus não aprova essas atitudes e condena os líderes que transformam a casa de Deus num covil de salteadores.
Por último, o Senhor ensina que a verdadeira adoração manifesta fé, oração e perdão. Portanto, a religiosidade não pode ser aparente, não deve ser algo subjetivo e vazio. Ela é prática, pois chama a pessoa para uma vida relacional com Deus e uma fé ativa que conduz à prática da oração e vai muito além, faz com que a pessoa perdoe o seu semelhante, pois aquele que se relaciona com Deus, reconcilia-se com o seu semelhante.
Um taxista depositava a sua fé numa moeda e esperava que a mesma lhe abençoasse. A fé pode ser mercantilizada e o dinheiro pode assumir o papel de deus, mas a verdadeira fé é prática, vivencial e relacional. Que possamos no dia a dia manifestar uma espiritualidade saudável.