Samaritanos

Gosto de acompanhar as notícias, mas confesso que tem sido muito complicado este ano. Não apenas por causa da pandemia e por todas as tragédias que aparecem estampadas, pois o que vende é a desgraça alheia. É triste perceber que estamos perdendo a maior de todas a batalhas, não para um vírus, mas sim para o nosso egoísmo.
O momento que vivemos mostra que não nos preocupamos com os demais. Duas notícias revelam isto. Uma festa realizada em Lagos, Portugal, outra no Brasil, no dia em que o País atingiu 1 milhão de casos de Covid-19. A filha de um deputado deu uma festa e não seguiu as normas estabelecidas e não mostrou empatia e sensibilidade. Estes dois casos mostram como gostamos de olhar apenas para nós próprios. A tragédia está acontecendo, mas é preciso curtir a vida, pois se a tragédia acontece com os outros, não posso fazer nada. É cada um por si.
O egocentrismo que vivemos é tão grande, que há uma necessidade de mostrar aos demais tudo o que fazemos e as redes sociais servem para isto mesmo. Gostamos de mostrar o nosso “sucesso”, como estamos bem, aproveitando a vida, sem nos preocuparmos com os demais, mas nos escondemos nos momentos de fragilidade. Queremos aparentar sempre uma imagem de sucesso e de pessoas vitoriosas e se tivermos que passar por cima dos outros, e tripudiar da desgraça alheia, não há problema, pois o importante é que estar bem.
Este é um momento da história, onde os verdadeiros heróis se levantam. Pessoas simples, gente que se solidariza e olha para o seu semelhante como próximo, sente a dor dele e busca fazer algo para ajudá-lo. Iniciei falando de duas festas, que foram puro prazer e vaidade, mas quero também exaltar dois eventos. O primeiro tem como idealizador e Carlos Netto e chama-se: “Inspira a esperança equilibrista” e o segundo, Juca Semen, tendo como protagonistas Dudu Brasil, Edu do Banjo e Mestre Caio, que farão um evento para juntar cestas básicas para os garçons e músicos de Manaus. No cartaz do segundo evento tem a seguinte frase: “O amor e a solidariedade vencerão!” Todas as pessoas que estão envolvidas e apoiando estes dois eventos, estão fazendo história e mudando a história da vida de muita gente. Eles agem com empatia e amor.
Pensando nestes fatos, recordei de duas histórias bíblicas. A primeira de um determinado jovem, rico que procurou Jesus para saber o que deveria fazer para herdar a vida eterna. Jesus perguntou-lhe se ele conhecia os mandamentos, o jovem disse que conhecia e os cumpria desde sua juventude. O Senhor, então; disse-lhe que faltava uma coisa para que ele herdasse a vida eterna, que era vender tudo o que tinha e distribuir aos pobres e assim, ele teria um tesouro no céu e deveria seguir o Mestre. O jovem ficou muito triste, pois possuía muitos bens e preferiu amar coisas do que pessoas. Preferiu o ter em vez do ser (Lc 18.15-30).
A segunda história é de um doutor da Lei que desejou por o Mestre à prova e vez a mesma pergunta que o jovem. O Senhor respondeu com duas perguntas: O que está escrito na Lei? Como lês?
O homem respondeu: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.” (Lc 10.27). O Senhor disse que ele fizesse isso e assim viveria e numa tentativa de se justificar, o homem perguntou quem era o seu próximo e foi por causa dessa pergunta que surgiu a parábola do bom samaritano (Lc 10.25-37).
Jesus diz que muito mais que religião confessional é preciso atitude e quem ama a Deus, irá manifestar o amor cuidando do seu próximo.
O jovem rico preferiu o ter. O samaritano preferiu o ser. No algarve um grupo, preferiu o prazer. No Brasil a filha de um determinado deputado optou pelo exibicionismo. Juca, Dudu Brasil e Mestre Caio, optam por cuidar e promover alimento a quem tem fome. Carlos leva a esperança e eles se tornam os samaritanos dos nossos dias e que surjam mais pessoas como eles para mudarem a história da vida de tanta gente e marcarem a história com amor e solidariedade.
Jesus ensina-nos a investir no ser. Mostra que devemos usar o ter em favor do ser. Que possamos amar o nosso próximo e disponibilizar o que temos para tratar e cuidar das suas necessidades.