Seja livre

Não consigo entender um cristianismo totalitário e muito menos um cristianismo que não regenere o ser humano. Como entender uma notícia que afirma: “NAÇÃO DE JESUS: Fuzis ungidos e grafite gospel em muros da comunidade: para facção do Rio, a lei do tráfico é a lei de Deus.” Como título e subtítulo de uma reportagem é perfeito, mas não tem nada de cristão. Isto não é cristianismo. Sendo assim, o título e subtítulo são falaciosos. O lead diz: “traficantes cariocas do Terceiro Comando Puro proíbem e expulsam de seus domínios os praticantes de religiões de matriz africana, numa disputa por território e fé estampada nos muros da favela. Poucos agressores chegam a responder pelos cries de intolerância religiosa.” Se é traficante não é cristão. Se não respeita a liberdade do outro, não pode ser cristão. Religião não se impõe a ninguém. Cada indivíduo é responsável por si. Gosto muito do que afirma John Landers: “Cada pessoa é responsável por si mesma diante de Deus. Nenhuma autoridade, civil ou religiosa, tem o direito de interpor-se entre o indivíduo e Deus.” Traficantes não podem definir a religião de ninguém. Traficantes não são cristãos. Podem estar ligados à uma associação, mas isto não faz deles cristãos.
Esta realidade fere dois princípios que forjaram meu ser: a competência do indivíduo e o da liberdade religiosa. Acima já foi dito o que é a competência de cada indivíduo e liberdade religiosa significa que: “Cada indivíduo tem o direito de seguir a religião que quiser – ou até não seguir nenhuma religião. Qualquer lei que impões uma crença fere o princípio da competência do indivíduo.” Liberdade religiosa é um legado dos batistas para o mundo.
Não aceito o totalitarismo religioso. Tenho amigos católicos romanos, ortodoxos, espíritas, judeus, ateus, agnósticos, pertencentes as diversas religiões afro-descentendes, islâmicos e por aí vai. A religião deles ou a não religião é uma opção e escolha pessoal posso até discordar, mas devo respeitar e aceitar a opção deles. Deus não força ninguém a segui-lo.
Outro princípio inviolável é a separação entre Igreja x Estado. O Estado não pode interferir nas questões da Igreja, mas a Igreja não pode interferir no Estado. Jesus disse: “ Dai pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Lc 20.25). O próprio Senhor Jesus separou as águas, mas é triste ver o conluio que o Estado faz com a igreja e a igreja com o Estado. Recentemente, a revista Visão publicou uma reportagem, onde fala dos lóbis evangélicos. A reportagem peca por não ser verdadeira, mas deixando Portugal de lado, atravesso o oceano e vejo o conluio do Estado com a Igreja e da Igreja com o Estado, mas quando olho para a história, percebo que este namoro sempre acabou mal.
Intolerância e falta de respeito. Discriminação e escravidão. Autoritarismo e totalitarismo, confusão reinante em pleno século XXI. Não posso compactuar com tais posturas. Meus princípios não me permitem. Quero o ser humano livre para optar em sã consciência e desejo total separação religiosa.
Carrego em mim princípios que são inegociáveis, e estes me fazem viver e conviver com os que pensam de forma diferente em harmonia, respeitando-os enquanto seres humanos livres, criados à imagem e semelhança de Deus. É arraigado aos meus princípios que não consigo entender algumas realidades do momento atual, pois os mesmos são totalmente antagônicos ao que creio, como também são maléficos à sociedade.
Fundamentado em meus princípios, respeitando todos os meus amigos que pensam diferente e sendo um republicano, desejo ver o triunfo da liberdade e aqui uso o texto de Jesus sem me unir aos políticos que utilizam este texto em seus interesses pessoais. Jesus declarou: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. (Jo 8.32). Eu prefiro ser livre e caminhar em liberdade.
Seja livre!