Sem medo

Dia tranquilo, a temperatura está amena e sento-me para poder ver e ouvir música. Assisto o DVD de Moment of Glory da banda Scorpions. As músicas marcaram-me e reportam a minha juventude e momentos únicos da minha vida. Deixo-me levar numa viagem pelo tempo que me liberta, solta as amarras que muitas vezes eu mesmo me colocava. Ver esse DVD me transporta para momentos únicos e, como minha memória é musical, visualizo pessoas que são e as que foram tão importantes na minha vida, uma vez que as carrego comigo em mim e, por mais que o tempo passe, elas regressam fazendo-me relembrar de tudo o que fui e vivi.
Relembro que há momentos na vida que enfrentamos o medo, a tristeza, lembranças que nos fazem chorar. De repente, depois de ter visto o DVD, vejo um vídeo de Oswaldo Montenegro em que ele canta Se puder sem medo. A letra é profunda, fala de uma relação que talvez chegue ao fim ou não. Essa canção é uma caminhada pela vida e ao ouvi-la eu caminho pela minha. Em pensamentos, viajo ao passado até retornar ao presente. É interessante escutar a canção quando alguém finge que esquece e reflito como nós também somos assim. Eu, na realidade, não esqueço e não quero esquecer, até porque as lembranças me ensinam e me fazem viver de modo diferente.
Realmente, se puder viver é bom viver sem medo ainda que ela faça parte da vida. Ele nos angustia e se faz presente nas nossas opções e decisões. Mas é preciso compreender o medo necessário, porém é fundamental eliminar o medo desnecessário, ou seja, é prudente ter medo de cobras, mas se pode ver cobras em todos os momentos de nossa vida. Portanto, quero viver, mas viver na perspectiva de uma vida sem medo.
Hoje me vejo olhando para dentro de mim. Observando a minha história e as portas que ficaram entre abertas. Olho para os sonhos que foram apenas sonhos. Vejo os ideais que ficaram armazenados e abandonados por causa das opções que fiz no percurso da minha vida. Percebo que sonhos são diferentes de utopia. Os sonhos são apenas e nada mais que anseios da mente e que muitas vezes não são concretizáveis, mas a utopia é o que ainda não se realizou e, nesse sentido eu sou um ser utópico que carrego a utopia em mim e dentro de mim.
Hoje quero deixar em cima da mesa muitas coisas. Quero deixar coisas que não fazem sentido. Quero deixar os sonhos desfeitos as tristezas. Quero olhar para frente e viver a vida sem medo, se puder viver assim. Quero viver com ousadia e com alegria, mesmo sabendo que terei que enfrentar agruras e tristezas.
Quero um novo começo. Quero a partir de mim e em mim reiniciar, mas quero começar de forma diferente. Quero juntar os cacos, os meus pedaços, porque na realidade, olho para mim e vejo que estou quebrado e este despedaçar que eu efetuei grita dentro de mim. Não, ninguém pode fazer nada por mim e não quero que o faça. Esse é um processo meu e só meu.
Quero recomeçar e se puder que seja sem medo, que seja um momento único e de glória. Que seja meu momento de glória. Hoje quero deixar muitas coisas em cima da mesa. Aliás, quero deixar os cacos para trás. Quero fechar a porta de mim mesmo. Não quero sonhos, nem fantasias. Não quero conselhos. Quero sair e viver e encarar de peito aberto o que vier. Sei que a dor é real, mas não existe dor que dure para sempre. Não há tristeza que perdure. Quero ousar e enfrentar a realidade. Seguir adiante, sem reservas e sem temores.
Hoje deixo livres aqueles que amo. Deixo-os livres para que possam viver e seguir seus caminhos. Quero alforriá-los para que sejam tudo o que devem ser e não o que eu quero que sejam. Sem medo deixo-os livre para que vivam e vivam uma vida plena, cheia de graça.
Hoje como diz a canção de Oswaldo “deixa nosso amor morrer sem graça e sem poesia”. E assim, sem alegria, sem sonho e fantasia, apenas com a dor. Sigo para o fim que na realidade é começo. Sem medo e sem fantasia, despeço-me abrindo mão do sonho. Despeço-me libertando os que amo e ficarei no meu canto, em alguns momentos com encanto outros tantos cheios de desencanto, mas vou em frente e vou sem medo.
Hoje deixo-me e despeço-me de mim e para mim. Fecho a porta e liberto-me e em obediência ao Mestre que diz: Segue-me (Mt 9.9). Levanto-me e sigo-O na certeza de que com Ele não há nada a temer.