Só nos resta a esperança

Sou natural do Amazonas, terra conhecida como o pulmão do mundo, por causa da sua floresta. Entretanto, o povo que vive no pulmão do mundo não tem oxigênio, sofre e tem os seus pulmões sendo asfixiado, ficando sem oxigênio. A angústia toma conta do ser e não há como ficar indiferente a dor e o desespero dessa gente sofrida, que não está tendo condições de fazer a despedida dos seus que partem e só lhes resta chorar. É olhando para a minha gente, vendo o sofrimento do povo dos Amazonas que lembro da canção de Raimundo Sodré:
"A dor da gente é dor de menino acanhado
Menino-bezerro pisado no curral do mundo a penar
Que salta aos olhos igual a um gemido calado
A sombra do mal-assombrado é a dor de nem poder chorar"
É triste a realidade que o povo amazonense está vivendo, mas esse é um momento, que de certa maneira, está sendo vivenciado em todos os lugares. As pessoas estão vivenciando às suas dores e muitas delas caladas, sem terem o direito se quer de fazer uma despedida e os profissionais de saúde, esgotados, correndo de um lado para o outro buscando forças para si mesmos e lutando para que possam cuidar dessa gente sofrida.
Não há oxigênio no pulmão do mundo, e as pessoas morrem. A dor é intensa. A angústia tomou conta do povo. Muita gente orando, suplicando a Deus, mas parece que Deus não nos escuta e isso nos faz lembrar o que disse Anselm Grün: “Orando, experimentamos, muitas vezes, a escuridão. Nós temos a impressão de que nossa oração cai no vazio. Nada adianta, nada acontece. Deus se esconde por trás de um muro espesso. Ele parece silenciar. Porque não podemos penetrar em Deus, muitas vezes agimos como os discípulos e adormecemos”. Cansamos de suplicar e diante do silêncio, desistimos. Contudo, o nosso desafio é continuar suplicando, insistindo, clamando. No evangelho de Lucas encontramos a parábola da viúva persistente e ela ensina-nos que não podemos esmorecer, é preciso persistir. Jesus no fim da história declara: “E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Quando porém viver o Filho do homem, por ventura achará fé na terra?” (Lc 18.1-8). Diante do caos, não cessemos de clamar!
O pulmão do mundo, ficou sem oxigênio e o desespero tomou conta das pessoas, mas não se pode perder a esperança, pois bem diz o povo que quem espera sempre alcança e precisamos ser o povo da esperança, mas nossa esperança deve ser em vista da cruz e aí tudo tem novo significado. “O paradoxo cristão da esperança consiste na cruz, que representa o fracasso das expectativas frustradas, tudo aquilo que obstrui minha vida com algo vindo de fora. A esperança cristã reside na ressurreição de Jesus, que transforma a cruz. Ela significa: Não existe fracasso que não possa servir como novo começo. Não existe escuridão que não possa ser iluminada pela luz. Não existe paralisia que não possa ser vencida. E não existe morte que não possa ser transformada em vida. Não há nada que possa desencorajar a esperança”.
Só nos resta implorar que o Senhor da vida intervenha. Não podemos esmorecer, apesar da dor e tristeza, precisamos manter viva a chama da esperança. Sim, cremos na vida e na ressurreição, mas é fato que: “Não podemos nem mesmo pensar em ressurreição sem tocar na profundidade da nossa dor”, e é sentindo essa angústia, essa falta de ar que nos faz erguer as nossas vozes em oração suplicando como a mulher Sírio-fenícia que adorando a Jesus disse: “Senhor, socorre-me!”. Sim, Senhor, socorre-nos! #Manaus #esperança #oração #semar