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Sonhos desfeitos



A morte quando chega despedaça-nos o ser. Ela rouba-nos quem amamos e os sonhos de vida e, a verdade é que fica tanta coisa por dizer, por fazer, abraços que não são dados, a vida que não foi vivida. Portanto, a morte priva-nos do outro, da caminhada partilhada com a pessoa que amamos.

Estamos vivendo um momento em que a morte voltou a ser tema de discussão e passou a fazer parte do nosso dia-a-dia. Ela ressurgiu em nossas conversas, em nossos lares através da pandemia, deixou de ficar oculta, mesmo nos rodeando de longe sempre vinha roubando aqueles que amamos. Bem disse Rubem Alves: “A morte tem muitas faces. A morte dos velhos, por mais dolorosa que seja, faz parte da ordem natural das coisas: depois do crepúsculo segue-se a noite. A morte dos velhos é triste mas não é trágica. É como o acorde final de uma sonata. O fim é o que deveria ser. Mas a morte de um filho é uma mutilação.

As Escrituras narram histórias de pais que se viram privados da companhia dos filhos. Jacó acreditou em uma mentira e sofreu durante anos até descobrir que o filho estava vivo (Gn 37-45). Davi, chorou amargamente a morte de seu filho Absalão (2 Sm 18.33). Os pais não estão preparados para enterrar seus filhos, mas infelizmente essa tragédia acontece e eles são mutilados e todos os sonhos que projetaram para os filhos são desfeitos. Foi isso que aconteceu à família do jovem Marcos Winícius, de 20 anos, que desapareceu na quinta-feira (8) em Botafogo, no Rio de Janeiro, teve o corpo encontrado segunda (12), em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O sonho da universidade, de uma vida longa, tudo lhe foi tirado e os pais de Marcos sofrem a dor da mutilação.

A morte não se explica. Uma morte violenta choca-nos e revolta-nos, mas devemos parar para refletir nas palavras de Paula Tomé, mãe de Marcos: “Só Deus para consolar nossos corações. Mesmo sem chão eu acredito e confio no Deus que eu sirvo e sei que ele vai me dá forças para suportar essa dor que está destruindo meu coração. Agradeço a todos pelas orações e carinho nesse momento de dor”. Esta mãe que sofre, que tem seu coração dilacerado, olha muito além das circunstâncias e reconhece que Deus pode consolar o seu coração e conceder forças para suportar essa dor que parece ser insuportável.

A morte invadiu os nossos lares, passou a ser tema de conversas, mas ela também tem roubado aqueles que amamos. Recentemente, conversei com uma pessoa que admiro muito e apenas partilhei com ele a dor da perda, pois o seu filho faleceu em decorrência do Covid -19. Entretanto, esse amigo deu-me uma lição de maturidade espiritual e mostrou-me que quem tem uma fé firmada em Jesus, sente a dor, sofre, mas mesmo assim, pode alimentar a esperança do reencontro.

Sonhos desfeitos, vidas despedaçadas. A morte chega levando os que amamos, mas aguardamos o momento da manifestação do Senhor. Esperamos o dia do seu banquete onde a morte será tragada para sempre e o próprio Senhor enxugará as lágrimas de todos os rostos (Is 25.6-8). A morte desfaz os nossos sonhos, mas ela não tem a última palavra. Ela nos entristece, mas a verdade é que ela é a penas um ponto seguido, pois a morte foi vencida e o ponto final reside nas mãos do Senhor que é a fonte da vida.

Hoje podemos estar chorando, mas o Senhor, o Deus de toda consolação, enxugará todas as nossas lágrimas e nos consolará e Ele mesmo dará um fim à morte e com Ele iremos celebrar o reencontro e a vida. Sendo assim, mesmo que esteja doendo, que possamos dizer a uma só voz: Louvado seja o nome do Senhor.


#vida #sonhos #covid

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