Tristeza

A canção de Vinícius e Tom diz: “Tristeza não tem fim, felicidade sim”. Discordo da canção. Creio que podemos ser felizes e viver a vida alegremente, mesmo tendo momentos ou situações de profunda tristeza. Não podemos e não temos como fugir da mesma. Um dia ela bate à nossa porta e aí teremos que vivê-la e encará-la sabendo que ela terá fim, pois não há tempestade que dura para sempre.
Somos seres emocionais e é natural passarmos por todas as emoções. Devemos aprender a vencer as dificuldades que aparecem pelo caminho. Bernado Stamateas diz: “Ao longo da vida teremos problemas, dificuldades, momentos inolvidáveis e outros que não gostaríamos de recordar, mas podemos sempre sobrepor-nos a todos eles.” É verdade, podemos vencer as emoções negativas, o que não podemos é deixar de vivê-las.
Hoje meu ser foi invadido pela tristeza. Meu coração está apertado. Não sei, sinto como que algo me falta, como se estivesse despedindo-me de não sei o quê. É a dor do luto, a tristeza profunda que me invade e me faz chorar por dentro. Neste momento sento-me e digo como o salmista: “Tem misericórdia de mim, ó SENHOR, porque estou angustiado. Consumidos estão de tristeza os meus olhos, a minha alma e o meu ventre.” (Sl 31.9). Meu ser está triste, eu estou triste, mas sei que esta tristeza é passageira, mas ela me consome e rasga-me o coração.
A tristeza é passageira, mas bate forte. Invade meu ser, tira-me a vontade de fazer as coisas. Rouba-me o desejo de estar com as pessoas, faz com que eu me feche no meu mundo, um mundo onde encontro-me comigo mesmo e dialogo com o papel, revelo-me nas palavras e vou deixando que elas transformem os momentos angustiantes em momentos transformadores e encantadores, apesar das dores sentidas.
Hoje encontro-me triste e na minha tristeza sinto o frio invadir a minha alma. Ela vem consumindo-me e por mais que eu lute para não ceder e entregar-me a ela, sou vencido e não tenho forças para combatê-la. Na realidade, ela chegou antes e quem deu conta dela em mim foi meu filho que ao olhar-me, perguntou porque eu estava triste. Descobri na própria pele que o ditado popular é a pura realidade pois “os olhos são a janela da alma” e meu filho conseguiu ver a minha alma, mesmo eu tentando esconder o que era patente em mim.
Eu sou uma pessoa alegre e feliz, mas hoje a tristeza se instalou, veio fazer morada e veio trazendo uma dor aguda que me invade, ocupa o meu ser sem pedir permissão, vem dilacerando-me, roubando-me o contentamento o prazer e o coração fica para explodir.
Hoje a tristeza fez morada em mim.
Invadiu meu viver, fez-me pequeno, roubou-me o prazer. Deixou-me desalentado e desencorajado, parece que todo prazer e contentamento fugiu de mim, sei que é passageiro, sei que a tristeza terá um fim, mas vivê-la é insuportável.
Hoje, posso dizer como Vinícius:
“De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente”.
Sinto-me assim, e por mais que tudo e todos digam o contrário o coração insiste nesta tristeza. Estou triste, o coração apertado. Sei que é uma emoção e um sentimento passageiro, mas a angústia que estou a viver parece não ter fim. Desejo que ela vá embora de modo ligeiro, mas enquanto não vai, vou sendo consumido pelas lágrimas que insistem em cair.
Hoje as lágrimas servem-me de bebida e o ser se enclausura e na pequenez desta clausura fecho-me aos demais. Fecho-me e espero que ela passe e me abandone, pois tristeza tem fim, felicidade não.