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Um homem também chora



A notícia chegou e era trágica. Ela anunciava a morte de Saul e Jónatas. Davi o guerreiro e poeta não a suporta e chora. Manifesta suas emoções diante de todos. Mostra-nos que um homem também chora, sim ele necessitava de amparo e companhia. Homem que é homem vive intensamente suas emoções e não tem medo de manifestá-las.

A notícia chegou como uma bomba, o ambiente era tenso e o povo estava ansioso, preocupado. Viver em tempos de guerra não é nada fácil. Eles estavam ali na expectativa e como naquela época não havia a tecnologia que existe em nossos dias, as notícias demoravam a chegar, mas quando chegavam poderiam causar grande dor ou alegria. Neste caso, a notícia foi geradora de dor.

Certo homem recebeu a notícia de que na guerra, seu sogro e cunhado morreram. Ele passava por um momento delicado com o sogro, mas amava-o muito e ao cunhado também. Naquele momento de dor e angústia o homem lamentou, expressou sua tristeza. Ele extravasou toda sua emoção e sentimento.

Aquele homem não foi educado numa época em que se dizia que homem não chora. Que homem não mostra suas emoções e sentimentos. Aliás, hoje ninguém deseja manifestar suas emoções e sentimentos e podemos ver isto nas cerimônias fúnebres onde a maioria das pessoas está de óculos escuros para que ninguém veja suas emoções. Contudo, este homem é oposto aos nossos dias. A bem da verdade, ele viveu num período onde a violência imperava, mas apesar de ser um homem acostumado a guerra, não se embruteceu, não perdeu sua sensibilidade.

Quando a notícia lhe foi dada ele chorou e compôs um lamento e disse que aquele deveria ser ensinado a todo o povo. Aquele homem veio a ser o rei da terra. Compôs um lamento que teve como título: “A lamentação do Arco”. Um lamento fantástico que manifesta emoção e sentimento.

Neste momento de luto e dor aquele homem poderoso, não tem medo de chorar em público e ensina-me que é fundamental extravasar o que sentimos. Não podemos nos fechar e esconder o que acontece conosco. Não devemos ter medo de assumir nossas tristezas. Não devemos ter vergonha de chorar por aqueles que amamos.

Percebo que aquele homem não tem medo de, na sua dor, manifestar sua essência. Apesar dos problemas que o sogro tinha para com ele, não se vê ressentimento nele. Ele soube perdoar sempre o sogro, e no momento de dor e despida avalia a vida do sogro e do cunhado vendo tudo de bom que os dois realizaram na vida das pessoas. Expressou gratidão, reconheceu como eram amigos e conclamou todo o povo a reconhecer a grandeza daqueles homens.

Ele ensina-me que nos momentos de dor é fundamental assumir que a angústia toma conta do ser. É necessário reconhecer que esta angústia se relaciona com a perda e que diante de tal fato, ficamos sem chão, sem saber o que fazer e o primeiro momento é de revolta que se torna em angústia e tristeza e tudo isto precisa ser externalizado.

Diante da tragédia, da perda do sogro e do cunhado, aquele homem assumiu publicamente o quanto os amava. Mostrou que sempre temos a oportunidade de manifestar o nosso amor, mesmo que seja aos demais. Além disso, como seria importante que aquelas pessoas vissem tal atitude para saber que ele não nutria ressentimentos.

Era uma época diferente da nossa. Sem tecnologia, sem a globalização e a banalização do sofrimento humano. Era uma época em que, mesmo em tempo de guerra, as pessoas tinham a capacidade de sentir e manifestar suas dores e emoções. Se fosse hoje, teriam tentado encher David de comprimidos para não ver sua dor e ter que suportar tal sofrimento. A realidade é que devemos regressar para aquela época, pois ali sim podíamos ser pessoas inteiras e por ser inteiras viveríamos nossas emoções sem medo. Por isso Davi chorou e lamentou a perda do sogro e do cunhado.


#vida #sentimentos #conselhos

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