Uma relação amorosa

A igreja é muito mais que uma instituição, ela é uma família e a família deve ser uma igreja. Sendo assim, mostra-me a tua família e dir-te-ei que tipo de igreja és. Não desejo fazer jogo de palavras, apenas quero refletir sobre a nossa postura na sociedade e o exemplo que estamos a transmitir, pois como cristãos, estamos inseridos na comunidade para dar-lhe sabor e ser a luz no fim do túnel.
Devemos reconhecer que os problemas fazem parte da vida, mas é fundamental ter a capacidade para ultrapassá-los. Depois dos problemas resolvidos, depois de ter passado pelo caudal da aflição, restam as cicatrizes. O que nos faz vencer os problemas na família é o amor, se realmente há amor, todas as feridas são tratadas, pois “o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1 Co 13.7).
Quando olhamos para a história do cristianismo, percebemos com tristeza, que há igrejas que fecharam às suas portas. Elas simplesmente deixaram de existir, pois seus membros se divorciaram uns dos outros. Falo em divórcio, pois a relação de Cristo com a Igreja é comparada com a relação conjugal. Sendo assim, nós que nos afirmamos cristãos, igreja do Senhor, precisamos rever nossa relação ou melhor, vamos responder sinceramente à pergunta: Como anda a nossa relação com o nosso amado?
Alguns anos atrás, a revista Visão nº 606, na sua coluna «Em Foco», discorria sobre a violência familiar e afirmava que no “Sul da Europa: todos os anos morrem, em nosso país, cerca de 60 mulheres às mãos dos companheiros. Além dessa média negra de cinco mortes por mês, PSP e GNR contabilizaram mais de 17 mil agressões em um ano”, concluindo que a família passou a ser sinônimo de violência. O companheirismo deixou de existir. Parece que as casas deixaram de ser um lar e transformaram-se em uma arena de combate, pois as pessoas estão se digladiando. Sendo assim, é possível dizer que não se dorme mais com a pessoa amada, mas sim com o inimigo. Essa é a realidade de nossos dias e não adianta tentarmos escamoteá-la. Contudo, cabe aos cristãos mostrar um caminho alternativo para as famílias.
A família cristã, verdadeiramente cristã, deve viver o padrão de Deus e conclamar a sociedade para viver esse padrão que foi traçado desde o início da criação. Que padrão é esse? O autor de Eclesiastes responde e diz: “Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vida vã; porque este é teu quinhão nesta vida, e do teu trabalho, que tu fazes debaixo do sol.” (Ec 9.9). Desfruta da vida ao lado da mulher amada. Respeita-a, honra-a, valoriza-a. Esta tem que ser a mensagem da igreja e dos cristãos a sociedade. É fundamental levantarmos as nossas vozes, não política, mas profética e dizer em nome do Senhor Jesus: “Chega de violência!”.
A igreja é na realidade a soma de várias famílias. Famílias problemáticas, igrejas doentes. Famílias saudáveis, igrejas relevantes e transformadoras. Sendo assim, que tipo de igreja nós somos? Estamos necessitando de mudanças? Avaliemos a nossa vida familiar, para ver onde estamos necessitando realizar mudanças.
A igreja, tanto quanto a família, devem ser um lugar de confiança e amor. A comunhão deve ser uma realidade. Isso só será possível se vivermos o que o Senhor determina em sua Palavra. Lembremos que ninguém pode dar o que não tem. Cristo amou a igreja e se entregou por ela. Precisamos amarmo-nos mutuamente e entregarmo-nos em amor uns aos outros e essa entrega inicia-se em nossos lares. Só poderemos nos doar à igreja, quando aprendermos a doarmo-nos na família.
Não durma com o inimigo, durma com a pessoa amada. Descanse em segurança e sossegado. O salmista diz: “Em paz me deitarei e logo dormirei, porque só tu, Senhor, me fazes habitar em segurança.” (Sl 4.8). Desfrute da segurança em Deus e no seu companheiro.
Em tempo de violência familiar, apesar das minhas fraquezas procuro viver firme e em segurança com minha família.