Veja as pessoas como elas são e estão

O evangelho de Matheus, em um determinado momento, mostra-nos Jesus caminhando, seguindo pela estrada da vida, ensinando, pregando o evangelho do reino e curando as pessoas de todas as enfermidades e doenças, mas ele mostra-nos uma mudança repentina no movimento de sua narrativa, mas deixemos que o texto fale por si: “E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de enfermidades. Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9.35-36). Leio o versículo 36 e a sensação que tenho é que o Senhor parou e contemplou as pessoas. Ele olhou para a multidão que o buscava e ao vê-la, teve a percepção de como é que elas se encontravam. O Senhor vê as pessoas como realmente são e por isso, sente compaixão delas. Ele viu que aquelas pessoas estavam aflitas e desamparadas como ovelhas sem pastor.
Quais as lições que este texto têm para nós?
Aquele que caminha com Cristo deve ver as pessoas em suas angústias. A nossa sociedade vive angustiada, numa aflição contínua. Olhamos para as pessoas à nossa volta e, por mais que pareçam felizes, vivem inseguras com o que lhes reserva o futuro. Nossa sociedade vive angustiada com a questão econômica. Ninguém sabe o que poderá acontecer. A crise afeta a todos. Não temos garantias de nada.
Uma outra realidade que tem angustiado e afligido nossa sociedade é a solidão. Somos a geração dos solitários. Apesar de toda a tecnologia existente, todas as informações, nos tornamos solitários. A solidão é o pior mal da nossa sociedade, como afirmou Kushner: «Mais do que qualquer problema humano, a solidão, a ausência de ligações humanas significativas esgotam a alegria e o senso do propósito das nossas vidas.» As pessoas estão solitárias. Vivem angustiadas porque desejam afetos, desejam encontrar um lugar onde possam se aninhar. A igreja necessita olhar a sociedade e ver que ela está angustiada pela incerteza que vive.
Aquele que caminha com Cristo deve ver as pessoas em seu estado de abandono. Olhemos para o texto e imaginemos o Senhor parado e a multidão à sua volta. Ele dirige-se aos seus discípulos e diz o seguinte: as pessoas estão desamparadas. Elas estão abandonadas. Não há quem tome conta delas. Não há quem as guie. Vivemos numa sociedade onde é cada um por si. Nossa sociedade apregoa o relativismo que o mundo é uma mentira geral, pois afirma que não há absolutos e se assim é, tudo é verdade, pois cada um tem a sua verdade, mas também tudo é mentira. A nossa sociedade está entregue a si mesma. E está assim por opção pessoal. O homem quis viver sem Deus, construir seu próprio caminho e o Senhor assim o permitiu, agora nós vemos o resultado.
O Senhor diz que a sociedade é como ovelha que não tem pastor. Está abandonada e perdida. Uma ovelha necessita de alguém para guiá-la. Precisa de alguém que lhe mostre o caminho seguro. As pessoas necessitam de alguém que as lidere, que as guie. Nosso abandono é visto na forma em que os supostos líderes políticos têm governado as nações. Na hora de ganhar os votos fazem inúmeras promessas que iludem, que nos fazem desejar tê-los como líder, mas quando chegam ao poder, viram-nos às costas, ou muitas vezes quando veem as dificuldades surgindo, fogem e deixam-nos sós. O Senhor diz que devemos olhar para a nossa sociedade e vê-la como pessoas abandonadas, sem quem as lidere e guie.
Estamos na caminhada com o Senhor, mas necessitamos parar para ver as pessoas à nossa volta. Precisamos compreendê-las, amá-las e acima de tudo saber como elas se encontram.